"Não fez mais do que a obrigação"



As palavras têm um poder magnífico... para o bem ou para o mal.

"Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo" - Provérbios 25:11

Estes dias estava passando uma reportagem sobre alguém que encontrou uma carteira na rua, cheia de dinheiro, e procurou incansavelmente seu dono, até encontrá-lo... A matéria dizia que até um carro de som a pessoa usou para anunciar nas ruas da pequena cidade.

Logo de cara, alguém que também viu a notícia soltou a famosa frase:
"NÃO FEZ MAIS DO QUE A SUA OBRIGAÇÃO".

E isso me levou a refletir sobre as duas atitudes. 

Afinal, de fato é de se esperar que uma pessoa que encontre algo que não seja seu, procure o verdadeiro dono para devolver-lhe.

Por outro lado, achei bem arrogante a atitude de quem se limitou apenas a "desmerecer" o gesto de honestidade e empatia que a reportagem evidenciava.

Na verdade, é muito comum a gente preferir usar palavras negativas, desmotivadoras, em vez de elogios e apoio moral... infelizmente.

"Não fez mais do que sua obrigação"
- diz o pai para o filho que se esforçou e tirou boa nota.
- diz o gerente para o empregado que superou a meta que lhe fora dada.
- diz a esposa ao marido que ajudou a trocar as fraldas do bebê.
- diz o marido à esposa que preparou um gostoso jantar.
- diz o membro de igreja ao pastor que lhe fez uma visita.
- diz o cidadão ao servidor público que atendeu rapidamente sua demanda.
- diz o eleitor ao político que empregou a verba em um bom projeto comunitário.
e por ai vai...

Percebe?

A pessoa fez diferente da MAIORIA... se esforçou para não ser igual à MAIORIA... procurou se destacar do que a MAIORIA faz...

E o que ele recebeu em troca?

Um balde de água fria!

O mesmo que foi tão ágil (e arrogante) para desmotivá-lo, será aquele que também vai criticá-lo quando ele PARAR de fazer "sua obrigação", e começar a agir como a MAIORIA age.

No final, temos 2 personagens nessa situação:
1) aquele que não se contenta em ser mais um no meio da multidão, e procura fazer o seu melhor, por uma questão de boa índole e bom caráter; e
2) aquele que está com a vida tão amarga (muitas vezes fruto dessas ideologias que têm tomado conta do mundo atualmente), que não consegue reconhecer as atitudes bacanas de outras pessoas.

O que dizem alguns estudiosos dessa temática?

"...a pessoa fará o suficiente para não ter problemas, parando ao perceber que não mais terá problemas. Afinal, por qual motivo a pessoa vai ter um desempenho SENSACIONAL se no final o resultado é o mesmo?
Agora pare e olhe à sua volta: quantas crianças você conhece que fazem apenas o NECESSÁRIO para passar de ano? E os funcionários que passam o mês inteiro 'morcegando' e lá pela metade do mês têm um 'surto' de desempenho e atingem as metas? Ou aquele namorado(a) que vive o relacionamento apenas tentando evitar problemas porque sabe que 'nada do que fizer será o suficiente'?" - Diego Souza, Psicólogo.

"Pensar que o outro não faz nada além de sua obrigação é de alguma forma enfaixar o convívio, sendo que podemos torná-lo sempre mais harmonioso e menos pesado, já que o dia a dia já nos consome muitas energias.
Se pudermos tornar essas energias mais leves, prazerosas e menos burocráticas e automáticas, por que não?" - Thyara Fernandes, Advogada e Psicóloga.

"...É obrigação, mas nem todos exercem seu ofício com o empenho esperado. É obrigação, mas tem todos se preocupam em atender com eficácia àquilo que, de fato, se faz necessário.
Ou seja, nem sempre ter obrigação é pressuposto do cumprimento da mesma!
A ignorância política daquele que verbaliza o título desse comentário sem ao menos refletir o que tal frase representa se esquece que, mesmo cumprindo uma obrigação conferida a si por ocasião do seu cargo ou ofício, o cumpridor da 'obrigação' difere-se de tantos outros que, num cenário de crise moral, pouco se importam em cumprir seus deveres" - Mário Costa, Professor.

Em uma sociedade cada vez mais egoísta e egocêntrica, onde as pessoas tendem a pensar apenas naquilo que lhes é conveniente, não custa sermos diferentes (!) e preferirmos palavras de ânimo e motivação àquelas que colocam o outro "para baixo".

Como maçãs de ouro em uma salva de prata... Lembra?!

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