Você é um pregador? Então, faça o seu melhor!

Há alguns dias falei que a Igreja é um lugar de "refúgio" para as mazelas do dia-a-dia. E alguns pediram que eu fosse mais "didático" sobre como devem ser os sermões pregados nos cultos Adventistas. 

É certo que um dos momentos mais esperados é aquele da pregação da Palavra de Deus, ou seja, o sermãoPorém, como eu disse em outra postagem, alguns têm subestimado a utilização deste momento, fazendo com que as pessoas (os adoradores) voltem para casa com a mesma sensação de vazio de alma com que chegaram para adorar.

Vamos relembrar o que escreveu um dos grandes teólogos Adventistas do séc. XX acerca deste assunto:


"Há muitos no mundo e na igreja que inconscientemente anseiam pela mensagem: 'os teus pecados estão perdoados'. Portanto, em cada sermão, o pregador precisa proclamar a justificação [ou seja, a salvação]" - LaRondelle, O que é salvação?, pág. 78.

O que o saudoso Dr. LaRondelle disse foi que os púlpitos Adventistas devem ser (muito bem) utilizados na pregação da mensagem de salvação em Cristo. E isto tem sido olvidado por alguns pregadores, na minha opinião. 

Em muitas ocasiões temos visto sermões recheados de filosofia, pedagogia, psicologia, economia, atualidades, escatologia duvidosa... até novelas... mas pouca TEOLOGIA... ou nenhuma, certas vezes!!!!

Muitos preferem falar apenas do tamanho das saias, do comprimento dos cabelos, de não comer isso ou aquilo, de eventos escatológicos sensacionalistas (a modinha do momento é a lei boliviana), das conspirações para o decreto dominical, etc... e não falam ao povo que Jesus está ansioso para carregar nossos fardos

Tenho plena certeza que muitos dos nossos irmãos ainda não tiveram um encontro real com Deus, porque simplesmente DESCONHECEM o que a Bíblia ensina sobre a abundante e incompreensível graça de Jesus... Sabem muito Mordomia, e quase nada de Soterologia.

Ou seja, sabemos tudo sobre eventos escatológicos, datas, sinais, leis, temperança, dízimos, males do açúcar, etc... mas quase NADA sobre a Justificação em Cristo.

O que estou querendo dizer?

Observo que alguns pregadores escolhem um verso bíblico apenas como ponto de partida para sua peça de oratória, mas fogem totalmente do que a passagem realmente diz, e muitas vezes o simples estudo aprofundado do texto bíblico escolhido já seria suficiente para impressionar a mente e o coração dos ouvintes. 

Também já vi pregadores utilizarem 10 versos bíblicos isolados em um único sermão, o que acaba resultando apenas numa "colcha de retalhos" de vários "mini sermões". Não é à toa que são pouquíssimos os sermões que realmente marcaram nossa experiência cristã.  

Quer ver? 
De quantos dos que você ouviu em 2017, ainda se lembra hoje?!

Para tentar ajudar aqueles que desenvolvem o pesado privilégio de servirem como mensageiros de Deus à Sua Igreja amada, eu apresento abaixo alguns simples conselhos que ouvi, li e pratiquei ao longo dos anos, e que podem melhorar em muito a qualidade da pregação e, especialmente, a qualidade do RESULTADO que esta pregação promove na vida da Igreja.

a) Entenda os diferentes tipos de Sermões (adaptado de H. U. Reifler)

Existe, basicamente, 3 tipos que podem ser utilizados nos nossos cultos:

1. Temático
É aquele em que se escolhe um tema e então se procuram os textos necessários para explicá-lo.
Ex: A volta de Jesus, o amor entre os irmãos, a santificação, a vida conjugal, etc.
* O sermão temático é bom para ser usado em conferências, na apresentação de doutrinas e de algumas biografias.


Vantagens:
· É o de divisão mais fácil, pois de fato é o mais simples. É mais fácil dividir um sermão temático.
· Também é o de lógica mais fácil, sendo o que mais se presta à observação da ordem e da harmonia das partes.
· Conserva melhor a unidade.
· Presta-se melhor à discussão de temas morais, evangélicos e ocasionais.
· Adapta-se melhor à arte da oratória.


Desvantagens:
· Exige muito controle do pregador para evitar divagações ou generalidades vazias.
· Requer um estilo mais apurado e formal
· Exige mais imaginação e vigor intelectual, visto que se presta mais ao uso de símiles, metáforas e analogias.
· Exige mais cultura geral e teológica, já que não se limita à análise de um texto apenas.
· Exige mais conhecimento da lógica e da dialética, pois tende a discussões apologéticas (de defesa da fé e da doutrina).

. Há o perigo constante de desprezar o uso em 1º plano das Escrituras (alguns nem sequer chegam a abrir a Bíblia na pregação temática – o que é um ERRO FATAL).

2. Expositivo (o meu preferido)
É aquele baseado em um único texto bíblico longo (três versos ou mais). Começa com um texto, então se descobre o tema e o seu desenvolvimento.Ex: Mat. 25:14-30; Mat. 3:7-12É útil para a explicação continuada e abrangente de um livro da Bíblia; também para a exposição de passagens relacionadas em série: a) parábolas de Jesus; b) Milagres de Jesus; c) Encontros de Jesus; d) Heróis da Bíblia; e) As Sete Igrejas do Apocalipse; etc.

Vantagens:

· Presta-se melhor à exposição de um livro bíblico inteiro ou de uma doutrina sistematizada.
· É de grande valor para o desenvolvimento do poder espiritual e da cultura teológica do pregador e de sua congregação.
· Inclina-se mais à interpretação natural das Escrituras do que à alegórica.
· É o método mais difícil, muito apreciado pelos que se dedicam à leitura e ao estudo diário e constante da Bíblia.


3. Textual
É aquele baseado em um texto bíblico curto (desde uma frase até 2 versos, no máximo). Começa com um texto, então se descobre o tema. Tanto a ideia central como as divisões principais devem brotar deste texto único. As ideias secundárias - subdivisões - podem vir de outros textos.
Ex: Mateus 7:13-14

Vantagens:
· É profundamente bíblico.
· Exige do pregador um conhecimento amplo das Escrituras e da Teologia.
· Obriga o pregador a estudar constantemente a Bíblia.
· É o que mais se presta ao doutrinamento.
· É o que mais se adapta ao pregador de cultura geral mediana, mas com vasto conhecimento das Escrituras e da Teologia.
· É muito apreciado pelo povo.


Conclusão:
Os 3 tipos de sermões são válidos, mas a experiência tem mostrado que a Igreja é melhor "alimentada" das Escrituras quando o pregador utiliza o sermão TEXTUAL ou o EXPOSITIVO.
O Temático deve ser guardado apenas para ocasiões especiais, e muito limitadamente e em raras pregações.

B) Veja agora os principais Passos para o Preparo de Sermões Bíblicos

1. Orar ao Senhor pedindo sabedoria, e escolher o texto, tendo em vista a NECESSIDADE da Igreja e o DOMÍNIO do pregador sobre o assunto.

2. Ler o texto e o contexto para familiarizar-se com o seu conteúdo. Leia o que o Espírito de Profecia fala sobre a passagem. Pesquise no Comentário Adventista e em Dicionários teológicos.

3. Dissecar o texto em forma de frases, cada qual contendo uma única verdade (exegese básica). Assim você vai mostrar para a Igreja o que o texto REALMENTE ensina.

4. Determinar a ideia central ou assunto.

5. Determinar as diversas ideias complementares ou de apoio à ideia central.

6. Ler todo o material necessário para uma correta compreensão do texto (comentários, dicionários, gramáticas, léxicos, outras versões bíblicas da passagem, etc.). Em alguns casos, é importante o conhecimento sobre a cultura da época na qual o texto foi escrito.

7. Preparar o esboço. Este passo é feito através da organização dos pensamentos do texto, no que chamamos de DESENVOLVIMENTO do sermão (deve ter, no máximo 4 partes).

8. Dar sustentação ou apoio, isto é, complementar o esboço com comentários, citações, ilustrações, exemplos, estatísticas, definições, etc. SEMPRE inclua ilustrações curtas, cotidianas, em seu sermão. Mas cuidado para não ficar só falando o quanto você é bom, sua família é perfeita, etc., etc., pois o povo logo vai perceber que você só está querendo se promover e passar por "santinho".

9. Preparar a conclusão. Não esquecer JAMAIS de fazer um claro e objetivo APELO ao final do sermão. Um sermão sem apelos será ALEIJADO, mesmo que o pregador seja um especialista em eloquência. É através do apelo que o pregador leva a congregação à ação.

10. Preparar a introdução. Inicie o sermão de forma a preparar a mente dos ouvintes para o que será estudado no texto bíblico. Evite os velhos "chavões" de sempre, ou contar "piadas" para quebrar o gelo. Também não caia no TERRÍVEL ERRO de dizer que foi escolhido de última hora, que não se preparou devidamente, etc. Isso mata o sermão antes mesmo de começá-lo.

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Se o sermão for bem preparado e bem fundamentado nas Escrituras, fruto da comunhão pessoal do pregador com a Fonte de todo o poder da Igreja, os irmãos sairão do culto com a sensação de que o Espírito Santo de Deus falou aos seus corações.
 

A Igreja precisa ser melhor alimentada nesta fase final da história do Mundo. 

E o melhor alimento que podemos dar/receber é através de uma pregação profunda e poderosa sobre a justificação pela fé em Cristo Jesus.

Deixe que a Bíblia mostre para sua Igreja o quanto a graça de Jesus é abundante, e o quanto Ele está desejoso de que todos alcancemos a vitória nEle.



"A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus" - 1Coríntios 2:4-5.

Eis a receita de um poderoso sermão!

 http://prgilsonmedeiros.blogspot.com/p/blog-page_19.html

Comentários

Anônimo disse…
Infelizmente tenho vivido constantemente essa sensação de ir pra igreja e voltar pra casa com a mesma sensação de vazio, pois n-a-d-a de bom ou proveitoso foi transmitido no púlpito. Nada que pudesse engrandecer e alimentar minha vida espiritual. Penso que isso seja resultado de uma geração de pastores que se formaram pela tranquilidade que a vida pastorel lhes oferece, e não pelo "chamado feito por Deus".
Gostei muito de seu blog. Vou indicá-lo a mais amigos.
Fique com Deus.
Anônimo disse…
Excelente matéria. É o que acontece na nossa igreja. Escalam pessoas para pregar que não tem nenhuma experiência. Cometem muitos erros, como os que o Sr. relatou. Começam a pregar por 10, 15 min. sem abrir a bíblia. Divagam muito e passam da hora. Sermões sem sentido e sem objetivo. E aí fica aquela sensação de vazio.
Abraços. Ismael Fonseca
Concordo em parte com o que o senhor escreveu neste post; mas não podemos esquecer que, como igreja fomos chamados para reerguer verdades esquecidas ou abandonadas pelo mundo cristão - mundo cristão esse que, teoricamente, não abandanou a verdade sobre Cristo como redentor e salvador, mas abandonou a verdade sobre a necessidade de transformação de caráter aqui, enquanto estamos vivos; que abandonou a verdade sobre o sábado e a necessidade de santificação desse dia; abandonou a verdade acerca da volta de Jesus (e prega tolices acerca do arrebatamento secreto, vida após a morte, céu x inferno). Portanto, como igreja cristã que somos, estamos correndo o risco de também de nos afastarmos dessas verdades. Pouco temos escutado (e estudado também) sobre a volta de Cristo e da necessidade de estarmos preparados para ela - claro que sabemos que, estar preparados, antes de mais nada, diz respeito à nossa relação pessoal com aquEle que vai voltar. Recordo-me agora, de uma pregação que ouvi, do Pastro Dilson Bezerra, que ele diz, sabiamente (e nesse ponto todos concordamos), que as pessoas têm focado muito nos eventos finais e pouco naquEle que vai voltar. Mas não podemos deixar também nossos púlpitos vazios dessas verdades preciosas que Deus espere que preguemos não só nas igrejas, mas também na rua, no trabalho, na escola, na faculdade, etc. Penso que há pessoas que são chamadas para pregar acerca da justificação em Cristo, do Seu amor, da Sua redenção; mas também creio que Deus levante pessoas para pregarem sobre escatologia, sobre doutrinas, o que também é necessário. Veja o que um dos mais importantes teólogos adventistas brasileiros escreveu: "A atual conjuntura tem levado muitos adventistas a indagar até quando continuaremos ouvindo sermões que não levam praticamente a nada e presenciando batismos de pessoas não comprometidas com a fé que professamos. Creio, pessoalmente, que essa problemática só poderá ser revertida se (1) buscarmos insistentemente o equilíbrio entre o relacionamento com Cristo e o compromisso com as Suas doutrinas; (2) voltarmos a estudar a Bíblia para compreender o seu conteúdo doutrinário (à semelhança de Guilherme Miller); (3) não nos envergonharmos mais de pregar os temas fundamentais da fé adventista; (4) prepararmos devidamente as pessoas para o batismo; (5) voltarmos a memorizar passagens bíblicas como os Dez Mandamentos, as bem-aventuranças, as três mensagens angélicas, etc.; e (6) treinarmos nossos membros através de seminários de aprofundamento bíblico.
Como costumo dizer, o meu interesse não está em Cristo sem as Suas doutrinas, e nem nas doutrinas sem Cristo, mas em Cristo com as Suas doutrinas. Em outras palavras, jamais deveríamos transformar o relacionamento com Cristo num substituto às verdades bíblicas, e nem enaltecer as verdades bíblicas em detrimento do relacionamento com Ele. Estamos nos aproximando rapidamente da maior crise entre a verdade e o erro de todos os tempos, e precisamos desesperadamente de um conhecimento mais profundo da "verdade como esta é em Jesus."10
Deveríamos imitar mais de perto o exemplo deixado por Cristo em Seu relacionamento com a verdade. Ellen White afirma: "Em Seus ensinos, Cristo não sermonizava, como fazem os ministros atualmente. Sua tarefa era a de edificar sobre a estrutura da verdade. Ele ajuntou as preciosas pedras da verdade, de que o inimigo se havia apossado e colocado na estrutura do erro, recolocando-as na estrutura da verdade, para que todos os que recebessem a palavra fossem por ela enriquecidos." (Alberto Timm, "Podemos ainda ser considerado o 'povo da Bíblia').
Um abraço a todos e que Deus nos abençoe e nos conduza por um caminho no qual possamos, efetivamente, encontrar a Cristo e a Seus ensinamentos e assim estarmos prontos para econtrar com Ele nas nuvens dos céus.
Gilmar R. Santos disse…
Sincera e honestamente Gilson penso que isso aconteça pelo fato de nós pastores ficarmos responsáveis por mais de um igreja e não temos tempo de estarmos em todas ao mesmo tempo. Sabemos que na maioria de nossas igrejas as pregações ficam por conta de membros e esses muitas vezes não tem a experiência e o estudo que nós que cursamos teologia temos. Precisamos treinar mais e melhor essas pessoas. É isso que penso.
Gilson Medeiros disse…
Caro Pr. Gilmar Santos.
Obrigado pelo comentário.

Concordo com suas palavras, apesar de acreditar que existem irmãos que não tiveram a oportunidade de cursar Teologia, mas são excelentes pregadores da Palavra de Deus.

Realmente, se os pastores pudesse se dedicar melhor à laboriosa tarefa de preparar e treinar os líderes voluntários, tenho certeza que muito "poder" seria visto em nossos púlpitos. Os ministros têm uma grande obra à sua frente, pois precisarão usar de sabedoria para liderarem esta última geração de remanescentes do povo de Deus. Tenho orando para que o Senhor lhes dê esta sabedoria em abundância.

Um abraço.
Gilson.
A.K.Renovatto disse…
Excelente o texto. Um bom sermão faz toda diferença. Chegar num culto e ouvir um sermão sem coerência ou fora do texto bíblico lido, é desanimador! Para mim também, o tipo de sermão que mais aprecio é o Expositivo! Deus o abençoe.