Não se assente na roda dos "difamadores"

Segundo o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, "difamar" vem do latim "diffamare", e significa "falar mal de".

A Bíblia condena expressamente esta prática:

"Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? (...) o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho".
Salmo 15:1-3

"O que retém o ódio é de lábios falsos, e o que difama é insensato".
Prov. 10:18

"O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos".
Prov. 16:28

"Sentas-te para falar contra teu irmão e difamas o filho de tua mãe".
Salmo 50:20

"Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens".
Tito 3:1-2

"O mexeriqueiro descobre o segredo, mas o fiel de espírito o encobre".
Prov. 11:13 (cf. 20:19)

"Pleiteia a tua causa diretamente com o teu próximo e não descubras o segredo de outrem; para que não te vitupere aquele que te ouvir, e não se te apegue a tua infâmia".
Prov. 25:9-10
Entre outros...

1. Implicações Teológicas

Como tenho dito aqui algumas vezes, é muito fácil viver uma religião baseada em "fazer" ou "deixar de fazer" coisas. Exemplos:
- Guardar os mandamentos
- Devolver o dízimo
- Doar as ofertas
- Não comer carne
- Não beber café ou refrigerantes
- Não usar calça comprida (mulheres)
- Não usar maquiagem ou jóias
- Marcar presença em todos os cultos
- Decorar porções inteiras da Bíblia
- Saber todas as 28 crenças fundamentais "de cor"
- Poder explicar nos mínimos detalhes todas as datas, símbolos e eventos proféticos dos livros de Daniel e Apocalipse

Etc.. etc... etc...

Todas estas coisas têm sua validade inquestionável, porém o verdadeiro Cristianismo consiste em revelar um caráter semelhante ao de Cristo... EM TODOS OS ASPECTOS (cf. João 17:3).

Nós falhamos exatamente nos pontos abordados pela chamada "Ética da Religião". Talvez por isso a parte da Bíblia mais "difícil" de ser seguida é exatamente aquela que Jesus usou como tema do Seu primeiro discurso, o qual ficou conhecido como o "Sermão da Montanha". Leia os capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus e você entenderá o que estou dizendo.

- Deixar de beber café é fácil, mas amar meus inimigos... (5:44)
- Não freqüentar cinemas, teatros, etc. é moleza, mas orar pelos que me perseguem... (idem)
- Ser o primeiro a chegar na Igreja no Sábado de manhã é só uma questão de hábito, mas deixar de apontar o dedo para os erros do meu irmão... (7:1-5)

Mas o tema da minha postagem de hoje é a "difamação".
Ela é irmã da "crítica" e prima da "injúria" e da "calúnia".

É uma pena que tenhamos que conviver tão freqüentemente com estas sementes diabólicas que são plantadas em nossos círculos sociais (inclusive na Igreja!). Vivemos em um mundo onde as pessoas têm um prazer mórbido em apontarem os erros uns dos outros. A Psicologia explica que esta é uma "arma" usada para esconder nossas próprias falhas, pois ao apontar meu dedo para o erro do outro, eu desvio os olhares dos meus próprios defeitos.

Quantos já não sofreram por serem eternamente taxados de "ex-isso" ou "ex-aquilo"?! Nós preferimos nos deter no 1% de negativo que alguém possa ter praticado, e deixamos de exaltar os 99% de coisas boas que esta mesma pessoa realizou.

A difamação entra exatamente ai.
Ela é usada para destruir a imagem pessoal de alguém, fazendo com que apenas os pontos negativos sejam evidenciados. Ao participarmos desta "corrente do mal", espalhando boatos, fofocas e mexericos sobre nossos irmãos (?) e irmãs (?) em Cristo, nós demonstramos o quanto a verdadeira fé que salva está distante de ser algo real neste mundo de ciúmes, egoísmos e intrigas.

Talvez por isso alguém certa vez falou:
"Eu me tornaria cristão, se não fossem os cristãos" - Gandhi.

E outro completou:
"O único cristão verdadeiro morreu na Cruz" - Nietzsche.

O que Ellen White falou sobre difamação?

"Quando damos ouvidos a uma difamação contra nosso irmão, somos responsáveis pela mesma. À pergunta: "Senhor, quem habitará no Teu tabernáculo? Quem morará no Teu santo monte?" responde o salmista: "Aquele que anda em sinceridade, e pratica a justiça, e fala verazmente segundo o seu coração; aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhuma afronta contra o seu próximo." Sal. 15:1-3.Um olhar, uma palavra, mesmo uma inflexão da voz, podem ser a expressão da falsidade, cravando-se qual seta farpada em algum coração, infligindo-lhe ferida incurável. Assim uma dúvida, uma difamação, pode ser lançada sobre uma pessoa por intermédio da qual Deus iria realizar uma boa obra, prejudicando-lhe a influência e destruindo-lhe a utilidade. Entre algumas espécies de animais, se um dentre eles é ferido e cai, é imediatamente atacado e rasgado em pedaços por seus companheiros. No mesmo espírito cruel condescendem homens e mulheres que tomam o nome de cristãos. Manifestam um zelo farisaico em apedrejar outros menos culpados que eles. Alguns há que apontam para as faltas e fracassos alheios, a fim de distrair a atenção dos outros dos seus próprios, ou para serem considerados muito zelosos em prol de Deus e da igreja" - Conselhos sobre Educação, pág. 89 (grifos acrescentados).

Mais claro do que isso, impossível!

2. Implicações Legais

A difamação é algo tão sério que até mesmo nosso Ordenamento Jurídico a prevê como uma prática criminal, sendo classificada como um Crime contra a Honra de uma Pessoa.

Art. 5º da Constituição Federal, inciso X:
"São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação".

Art. 139 do Código Penal Brasileiro:
"Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena de detenção de 3 meses a 1 ano, e multa".

Veja o comentário do eminente promotor e professor Victor Eduardo Rios Gonçalves:
"A difamação é crime que atenta contra a honra objetiva, e pressupõe, tal qual na calúnia, a imputação de um fato determinado, bastando, entretanto, que a ofensa tenha o poder de arranhar a reputação da vítima, ou seja, o bom nome, o bom conceito que o ofendido goza entre seus pares. (...) Saliente-se, ainda, que, na difamação, mesmo que a imputação seja verdadeira, existirá o crime [de difamação], deixando claro o legislador que as pessoas não devem fazer comentários com outros acerca de fatos desabonadores de que tenham conhecimento sobre essa ou aquela pessoa" (in Sinopses Jurídicas, vol. 8: Dos crimes contra a pessoa, editora Saraiva, 2007, pág. 104) - grifos acrescentados.

Se o alvo da difamação for alguém menor de idade, ai é que a situação se complica ainda mais!

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Vamos tomar mais cuidado com as reuniões de Comissão, com os comentários maldosos acerca de nossos irmãos e irmãs, com os boatos e fofoquinhas... pois assim estaremos evitando complicações processuais com a Justiça humana... e também nos moldando à Justiça Divina...afinal:

"Quem, SENHOR, habitará no Teu tabernáculo? Quem há de morar no Teu santo monte? (...) o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho" - Salmo 15:1-3.

Comentários

Unknown disse…
Saudações em Cristo, caro Gilson.
O assunto que você, oportunamente, nos traz não é restrito as igrejas. Mas é inadmissível tal prática a nós que queremos refletir o caráter do Criador (que inspira somente coisas boas e edificantes). Em 1997 ouvi de uma psicóloga o texto "As três peneiras"; em 2005 ouvi em uma reunião o Pr. Givaldo Candido da Silva (HOMEM DE D'US) que a tribo de Dã ficou de fora da listagem das tribos em Apocalipse porque era mexeriqueira. No texto de Tiago 3 é apresentado o quão dificil é dominar a língua (digo difícil, não impossível). E o mesmo Tiago em 3:18 mostra que o remédio para o "câncer" da difamação (é um "cancer" mesmo pois vai se espalhando e se enraizando e para depois ser extirpado machuca muitas "células" da Igreja) é a paz. E só podemos te-la quando vamos ao Seu Príncipe. Na hora de tal tentação é necessário fazer-se "discípulo do silêncio" e marchar para longe do "banquete"
Gilson Medeiros disse…
Prezado João, excelente comentário!
Obrigado.
Anônimo disse…
Prof. Gilson,

Sobre o tema em questão, quero dizer o seguinte:
Infelizmente na IASD existe muita calúnia e difamação.
Fiz parte de comissões da igreja durante muitos anos. E hoje tenho terrivel trauma quando se fala de "reunião da comissão". Quantas e quantas vezes nos reuniamos em pleno sábado para tratar de assuntos que envolviam membros da igreja. Falava-se muitas coisas, sem provas. Tomava-se decisões sem ouvir o "outro lado". Enfim muita arbritariedade. Felizmente hoje não participo mais de comissões de igreja. Penso que há muito para ser feito, no sentido de acabar com essa "praga" da calúnia. É necessário ter coragem como a que o estimado professor tem para "tentar" extirpar esse verdadeiro e terrivel mal que assola a igreja. Que Deus continue te iluminando para trazer essas oportunas mensagens.

Marcos.
Gilson Medeiros disse…
Caro Marcos, obrigado pelo comentário.

Infelizmente, tenho que concordar com você no que se refere à prática comum de se utilizar reuniões de comissão para "falar da vida alheia", em temas que nada têm que ver com o evangelismo, que deve ser o principal foco de uma comissão de igreja, segundo o próprio Manual.

Mas, se tiver oportunidade de participar, participe! Não se esquive, pois você pode ser o "sal" que Jesus precisa para "temperar" as coisas em sua congregação.

Um abraço.
Gilson.
Fé pela Razão disse…
É muito oportuna esta mensagem. Assim sendo, peço que envie para o pessoal do blog "adventismo em foco". Não sabem fazer outra coisa, que não seja criticar toda e qualquer religião, e ainda se auto-intitulam "a religião verdadeira".
Cacau disse…
Nossa, sem dúvida que a difamação é algo grave, mas está em todo lugar, até em igrejas! O verso de Salmos fechou bem a matéria!

Gostei tanto da matéria, quanto do primeiro comentário!