Para quê Deus "serve"?

Certa vez, eu estava conversando com um amigo que é Assistente Social de uma repartição pública federal, e por isso convive com pessoas de diferentes religiosidades, e no diálogo surgiu uma reflexão: os religiosos de hoje estão buscando um deus que os sirva.

Alguns parecem pensar da seguinte maneira:
"Se Deus não me serve, então para quê Ele serve?!"

É um absurdo pensar assim, mas estamos vendo que esta é realidade na vida de muitos professos cristãos da atualidade.

A Teologia da Prosperidade

Não é mais novidade para ninguém que as igrejas neo-pentecostais estão levantando verdadeiros impérios eclesiásticos (em especial com a compra de empresas de comunicação, financiamento de campanhas políticas, construção de templos nababescos, etc.) utilizando-se da pregação da prosperidade material "aqui e agora".

Os grandes nomes desta nova "teologia" são enfáticos em dizerem que Deus está "obrigado" a cumprir Suas promessas na vida de Seu povo. O curioso é que tais pregadores "pescam" na Bíblia apenas as promessas que eles interpretam como sendo a garantia de uma vida abastada e cheia de riqueza do ponto de vista material.

Nos programas de televisão e rádio usados para massificar esta ideologia, sempre são utilizados testemunhos de pessoas que passaram a viver uma vida próspera, exatamente depois de iniciarem sua participação nas "campanhas" financeiras promovidas por tais igrejas. As imagens mostradas durante estes testemunhos freqüentemente mostram carros e casas de luxo, adquiridos, segundo os entrevistados, depois que fizeram seu "pacto" de fidelidade com Deus, tornando-se dizimistas, ofertantes, "patrocinadores", etc., nas campanhas da sua igreja.

Já ouvi alguns desses pregadores da prosperidade dizerem que você tem o direito de exigir de Deus até a cor do carro, o bairro em que deseja morar, o faturamente da nova empresa, quanto quer ganhar de salário, etc. Você pode "exigir" porque está fazendo sua parte, e Deus está "obrigado" a fazer a dEle. E, é claro, a parte de Deus sempre é fazer enriquecer os que Lhe são fiéis. Afinal, "se Deus não me serve, então para quê Ele serve". Por que eu deveria manter minha fidelidade para com o Senhor, se Ele não "devolver" isto para mim em forma de carros, casas, dinheiro?

Os sermões sempre são sobre vitórias em campanhas militares (para isso o AT ainda está valendo!), milagres fantásticos, provas de fé, etc. Às vezes, pesca-se uma única palavra no verso apenas para apoiar a interpretação de que o povo de Deus deve ser rico nesta vida.

É curioso observar que estes sermões quase nunca falam de renúncia pessoal no vestuário, por exemplo, na alimentação (para isso o AT não serve mais!?), na sexualidade, etc. Quase nunca eles falam sobre a volta de Jesus, sobre a guarda dos mandamentos (a não ser de forma deturpada e totalmente fora do contexto bíblico), do Apocalipse e suas mensagens proféticas. Dificilmente os vemos orientando o povo sobre a educação dos filhos, sobre a qualidade na adoração (na música, por exemplo), sobre o zelo que o cristão deve ter em sua vida pessoal e na aparência (jóias, maquiagens, por exemplo). Não! O tema quase sempre é: PROSPERIDADE - AQUI E AGORA.

Ora, se não foi para isso que Deus me criou (ser rico e viver luxuosamente), então para quê mais foi?! Se meu vizinho pode ter um carro que custa R$ 100.000,00, por que eu também não posso?! Eu não sou filho do Dono do Mundo?!

O Equilíbrio

Como Adventistas, nós também precisamos ter cuidado para não sermos contaminados com esta nova "teologia". O "toma-lá-dá-cá" com que alguns encaram a Mordomia do Tesouro, por exemplo, precisa ser evitado, para não cairmos na mesma armadilha de culpar a Deus por não nos dar uma vida abastada, quando pensamos que já estamos fazendo nossa parte na "sociedade" (devolver o dízimo e doar as ofertas).

A Teologia da Prosperidade nos leva a acreditar que só recebemos uma bênção de Deus quando esta se caracterizar por um ganho financeiro. E as outras maneiras que Deus, em Sua Palavra, também disse que nos abençoaria, quando seguíssemos Seus conselhos?

- saúde, quando seguimos as orientações alimentares;
- harmonia no lar, quando praticamos o que Ele nos ensinou sobre a vida familiar;
- proteção e vida longa, quando respeitamos nossos pais.
- imunidade contra doenças sexuais, quando nos mantemos dentro do ambiente matrimonial;
- bons relacionamentos, quando praticamos a paz e o bem com todos;
- vida "deleitosa", quando guardamos Seus santos sábados;
etc.

Para os teólogos da prosperidade, nada disso é importante. O que importa de verdade é se o saldo da conta bancária está crescendo (e sendo repartido com a igreja, é claro!).

É claro que Deus quer nos ver felizes já nesta vida, enquanto nos preparamos para a eternidade ao Seu lado! Mas isso, necessariamente, não quer dizer que Ele nos cobrirá de luxo e riqueza, apenas para satisfazer a caprichos egoístas e egocêntricos.

A maior dádiva, a maior bênção, a maior certeza que o Senhor quer colocar em nosso coração é a convicção da salvação e da vida eterna. Só isso já nos basta!

"Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza" - 2Cor. 12:9.

É para isso que Deus "serve": para nos cobrir com Seu amor e com Sua graça.

O resto é resto!

Comentários

Unknown disse…
Muitooo bom ler este artigo para nos firmar ainda mais na verdade...
Tenho visto coisas absurdas a respeito desta Teologia da Prosperidade, lembro que no ano de 2004 tive a oportunidade de assitir um sermão especial sobre assunto pelo ex-presidente da APO Carlos Alvarenga...na ocasião repassei este sermão para a igreja.O Que me deixa mais apreensivo é que na época não se ouvia falar de Igreja Mundial do Poder de Deus e seus meios mirabolantes de pregar com mais convicção ser uma verdade esta teologia....Tenho visto pessoas em seus despero por estar muitoo endividado, ou por uma doença terminal darem realmente tudo o que tem para uma falsa benção exigida a Deus, e foi assim que a uma grande conhecida de minha mãe morreu, primeiro doou o impossivel, recebeu a cura do Valdemiro, e morreu semanas mais tarde....
Que Deus continue te abençoando Gilson...
Grande abraço...
Unknown disse…
O que a maioria esmagadora de cristãos chama de Teologia da Prosperidade (um apelido) na realidade chama-se Doutrina da Confissão Positiva; que é muito envolvente e mais perigosa do que imaginamos ao ouvir ou ler comentários a respeito.
Unknown disse…
Continuação.
A Doutrina da Confissão Positiva Nasceu no início do século 19, ficou apagada durante décadas e na década de 50 do século 20 ressurgiu devagar e foi tomando força. Ei-la hoje. O aspecto financeiro é apenas o chamariz para um maior conteúdo. Pesquiesem pois há muito mais coisas que não convêm ser ditas em um blogue dada a sinceridade dos irmãos "teleguiados".
irmão leitor disse…
Alguns vídeos do "Provai e vêde" já estão com um dos pés nessa teologia.
Irmãos nossos, que são mais dispostos do que preparados, acabam dando testemunhos financeiros utilizando-se de argumentos estranhos aos princípios da fidelidade.
Queridos irmãos, queridos irmãos! Sejamos mais criteriosos com esse assunto em nossos púlpitos!
---------------------------------
(Por que, para se fazer comentário, devemos digitar duas palavras escritas de um jeito tão esquisito? É um critério desnecessário, mesmo que haja resposta contrária a isso).
Anônimo disse…
Mais Gilson (é que ainda sou novo na fé adventista e por isso perdoe-me a minha ignorância a respeito do assunto) pelo que me consta a igreja adventista também não prega o toma lá da cá quando exige de nós os dízimos e ofertas? Passei por algumas dificuldades financeiras e ao informar que não teria condições de arcar com o dízimo por pelo menos uns 6 meses até que me estabilizasse financeiramente, levei uma "chamada" na igreja de que minha vida estava desestabilizada justamente porque não estava cumprindo com minha parte de devolver a Deus o que lhe era de direito. Fiquei muito chateado com essa atitude mas nem por isso deixei de continuar indo a igreja com a promessa de quando a minha situação se estabilizasse que sei que aconteceria passaria a fazer a devolução do dinheiro de Deus. Chegaram ao ponto de me dizer que se não estava pagando o dízimo que pelo menos contribuísse com as ofertas e creio que isso só deva ser feito de coração e não por pressão dos outros. Só me deixaram um pouco mais sossegado quando passada a minha difícil situação financeira passei a contribuir não com 10 e sim com 25% dos meus rendimentos como forma de pagar os juros pelo período de deixei de pagar. Em fim gostaria que você comentasse a respeito desses fatos que infelizmente também ocorrem em nossa igreja de ficarem fiscalizando quem está ou não em dia com o dízimo para cobrar. É dízimo, é oferta, é recolta e muitas vezes quando se precisa fazer alguma coisa na igreja a mesma nunca tem dinheiro para nada e acaba sempre sobrando para nós.
Por favor comente ao invés de ficar apontando o dedo somente para a crença alheia.
Allan
Anônimo disse…
Gilson, me explique uma coisa se possível:
Passei por algumas dificuldades financeiras e informei na igreja que até que me estabilizasse deixaria de arcar com o dízimo por pelo menos uns 6 meses até que a minha situação financeira voltasse ao normal, que seria nesse prazo informado, pois tive alguns contratempos que me desestabilizaram financeiramente. Levei uma "chamada" na igreja pois me disseram que minha vida estava desestabilizada justamente porque havia deixado de devolver o dízimo sem nem ao menos quererem saber o motivo pelo qual não poderia pagar nesse período. Confesso que fiquei muito triste com essa situação mas continuei indo a igreja assim mesmo mas vez ou outra aparecia alguém para me questionar como estavam as coisas, se a situação já tinha melhorado, pois se Deus não estava me abençoando era porque não estava devolvendo o dízimo e só me deixaram sossegado depois que passado o prazo pedido passei a contribuir com valor maior do que o que pagava como forma de pagar os juros pelo período que não estava contribuindo. Infelizmente esse fato aconteceu dentro da igreja adventista que frequento e posso informar a igreja se você desejar e nome de pessoas de lá que presenciaram esse fato e acharam absurda a atitude de me cobrarem sabendo da difícil situação que estava vivenciando. Por isso antes de ficar apontando o dedo para a igreja A ou B, de fulano ou de ciclano, lamentavelmente fatos como esses também ocorrem dentro da nossa igreja por parte de pessoas que ficam fiscalizando quem está ou não em dia com o pagamento do dízimo. Chegaram ao absurdo de me dizerem que se não estava devolvendo o dízimo que pelo menos contribuísse com as ofertas aos sábado e a resposta que dei foi que deveria fazer isso de coração e não por pressão de quem que que fosse. Nossa igreja também cobra dízimo, ofertas, recolta e o que mais acho interessante nisso tudo é que se precisarmos fazer qualquer coisa tipo algum conserto como ocorreu há alguns dias atrás a igreja alegou que não tinha dinheiro para arcar com as despesas e os custos do tal conserto acabou recaindo sobre nós membros.
Gostaria muito que você comentasse pois respeito muito sua opinião e gosto da coerência com a qual você trata os assuntos aqui abordados.
Obrigado,
Allan
Lembrando que nada disso abalou minha fé e as coisas já se normalizaram
Gilson Medeiros disse…
Prezado "Estou Salvo, e você", a contribuição financeira para a Obra de Deus é uma questão de fé e compreensão do assunto.

Se você entende que a Igreja "só quer saber de dinheiro", é uma opinião sua. Discordo dela totalmente!

Só é possível avançar na pregação do Evangelho se existirem os recursos financeiros necessários para isso. E de onde virão tais recursos? Do governo?! Dos ateus?! Dos espíritas?!

Certamente que não!

O plano de manutenção da Obra do Senhor é perfeito em sua essência. Se existem desvios, certamente são pontuais, e não podem ser usados como desculpar para disfarçar nosso coração egoísta e avarento.

Dou minhas ofertas e devolvo meu dízimo com alegria, e sempre que posso ajudo mais. Isso não é para mim um fardo, mas uma bênção.

Fardo é ser retido compulsoriamente em 27% do meu salário para o Imposto de Renda, e ainda ter que pagar plano de saúde e escola particular para minhas filhas, e assistir esta robalheira que fazem com meu dinheiro lá em Brasília.

Deus, pelo menos, me dá a oportunidade de escolher.

Um abraço.
Gilson.
A.K.Renovatto disse…
Excelente o texto!Não apoio essa "Teologia da Prosperidade" justamente porque essa "teologia" se parece com uma barganha e é nociva a Igreja de Cristo. Claro que eu entendo que Deus pode sim prosperar alguém, assim como muitos na Bíblia eram prósperos, porém, não é "obrigação" de Deus. A salvação eterna é a maior riqueza que um cristão deve almejar. Essa Teologia além de se pregar prosperidade, geralmente também associam doenças com falta de fé. Isso gera alguns problemas em pessoas que ficam doentes, que acham que devem exigir a cura, e ainda são vistos por alguns como pessoas sem fé. Triste! Certa vez ouvi um homem dizer que alguém não recebe cura porque não exerce a fé verdadeira em Deus. Pensa o que uma afirmação dessas pode causar numa pessoa com câncer, por exemplo, que não é curado?! Além da angústia da enfermidade, dos tratamentos, ainda ter que ouvir questionamentos de sua fé ou que talvez seja "castigo" por algum pecado oculto. Infelizmente, alguns pensam assim. Muitos vão a igreja para prosperar, sair da pobreza e ao se frustrarem se iram contra Deus ou tentam barganhas etc. Lamentável!