O cristão e a depressão


Segundo dados da OMS, a depressão será uma das doenças que mais vai matar em todo o mundo nos próximos 20 anos, o que faz dela um grande inimigo para qualquer um de nós.

Por isso é tão importante conhecê-la, tanto para poder se prevenir contra ela, como para ajudar alguém que esteja perto de nós e que já esteja com os sintomas de um estado de depressão.

Como detectar e vencer a depressão
Por Mario Pereyra (Pastor, Professor e Psicólogo Adventista)

Annie, 36 anos, vive com seu marido e dois filhos. O que ela vive dificilmente pode ser chamado de vida. Durante a maior parte do dia, está com medo e ansiosa. Medo de nada em particular, mas ainda assim, medo. Frequentemente está tensa, com aparência cansada e olhar perdido. Por vezes, chora sem saber a razão. O sorriso de suas crianças não lhe causa muito impacto. À noite, é vítima de insônia. “É horrível, assustador, já não aguento mais”, ela me confidenciou.

Não me sinto disposta a fazer nada. Não consigo fazer as tarefas, não vou a lugar nenhum. Eu não quero ver ninguém. Vivo deitada, apesar de não conseguir dormir. Apenas me deito e fico pensando em meus problemas. A comida me dá nojo. Perdi cinco quilos nas últimas semanas. Por vezes, penso que seria melhor pôr um fim a esse pesadelo.”

Annie é uma vítima da depressão, a mais comum de todas as desordens mentais e queixas de saúde. Em todo o mundo, aproximadamente 400 milhões de pessoas sofrem de depressão. As estimativas variam de 12 a 14% da população mundial.

Os sintomas mais comuns são melancolia, perda de interesse ou prazer, sentimento de culpa, baixa autoestima, transtornos do sono, falta de apetite, pouca energia e baixa concentração. No pior dos cenários, a depressão pode levar ao suicídio, uma trágica fatalidade associada à perda de cerca de 850 mil vidas a cada ano.

O quadro é preocupante. O pior é que dois terços das pessoas que sofrem de depressão não buscam ajuda. Porém, mais de 80% entre aqueles com depressão clínica melhoram significantemente com tratamento.

Tipos de depressão
Pesquisadores têm sugerido diferentes subtipos teóricos de depressão. São eles:

1. Depressão maior é a condição na qual alguém se sente deprimido o tempo todo, sem interesse em nada. Há perda de apetite, insônia, ansiedade, fadiga, dúvidas e tendências suicidas.

2. Distimia é uma depressão mais prolongada (mínimo de dois anos para adultos e um ano para crianças e adolescentes), com sintomas similares à depressão maior, mas com menor intensidade.

3. Depressão bipolar é uma condição caracterizada pela presença de depressão maior e episódios de mania. É um estado anormal da mente, expansivo ou irritável, que pode durar por uma semana, com ilusões de grandeza, ausência de sono, falando mais do que o usual, pensamentos dispersos, ativismo e agitação psicomotora.

4. Ciclotimia é similar à desordem bipolar, mas de maior duração e menor intensidade.

Os dez mandamentos antidepressão

Há dois modos básicos de combater a depressão: com psicoterapia e terapia farmacológica. A pessoa deve ser avaliada por um psiquiatra que prescreverá tratamento adequado. A psicoterapia mais efetiva é a cognitivo-comportamental. Ela permite aos pacientes adquirirem novas habilidades em seu modo de percepção, compreensão e de reação às dificuldades, reduzindo a gravidade e duração da condição depressiva. Entre diversas formas para alcançar esse objetivo, gostaria de sugerir dez mandamentos antidepressão.

1. Intencionalmente lute contra pensamentos negativos. Os pensamentos negativos mais importantes são conhecidos como “Tríade Cognitiva Negativa”. São eles: (1) pensamentos e sentimentos negativos sobre si mesmo; (2) a tendência de interpretar o ambiente de forma negativa; e (3) a visão do futuro de modo pessimista. Por exemplo, Annie estava convencida de que era uma mãe ruim e uma péssima esposa. Pensava que seu esposo não a amava e com certeza a deixaria. Acreditava que a história depressiva de sua mãe se repetiria com ela.

Como combater esses pensamentos? Dois passos irão ajudar. Primeiro, detecte e descubra os pensamentos negativos. Segundo, confronte-os com evidências da realidade.

Pedimos a Annie que escrevesse suas situações negativas em um caderno com quatro colunas. As três primeiras colunas eram para ela descrever o evento, o que ela pensou e sentiu de acordo com a situação e que tipo de evidência ela possuía. Ela tinha que escrever na última coluna um pensamento positivo que substituísse o negativo. Por exemplo: um dia ela se encontrou com uma amiga que não a cumprimentou. Isso desencadeou pensamentos negativos. Aqui está o que ela escreveu:

Situação
Minha amiga passou perto de mim sem me cumprimentar.

O que senti e pensei
Eu penso que ela está brava comigo. Isso gerou medo e rejeição.

Evidência
Seu semblante sério e desagradável.

Pensamento alternativo
Pode ser que ela não esteja brava comigo e sim preocupada acerca de algo mais pessoal.

2. Quebre o circuito de ideias negativas. Annie pensou que seu marido se cansaria dela e a abandonaria. Dessa forma, se retraiu e adotou uma atitude desdenhosa. “Se ele vai me deixar, para que devo me preocupar com ele?”, pensava. “Você escutou o que ele disse quando entrou? Que eu não melhorarei novamente, como a minha mãe. O que ele quer é se ver livre de mim.” Tais pensamentos podem provocar uma resposta negativa do marido. Em troca, uma resposta negativa reforçaria seus sentimentos de rejeição e de futuro abandono. Annie estava presa em um círculo vicioso.

Como mudar estas ideias negativas? Uma maneira é confrontar tais pensamentos com a real situação. Na realidade, Omar, o marido de Annie, a amava muito e estava fazendo tudo para tornar a recuperação dela possível. Annie sabia que ela deveria preservar seu matrimônio e sua família, ser mais amorosa e cuidadosa. Assim, ao confrontar o negativo e reforçar o positivo, Annie poderia quebrar o círculo vicioso. Quando as atitudes mudam, tudo muda.

3. Evite pensamentos “absolutos”, do tipo “tudo ou nada”. “Omar nunca me amará novamente como antes.” “Tudo sempre dá errado.” Tais pensamentos e atitudes são típicos de pacientes deprimidos. A tendência é julgar as experiências, situações, pessoas e a si mesmo por duas categorias apenas: bom ou ruim, sempre ou nunca, santo ou pecador, etc. Para mudar esse modo de pensar, o método mais efetivo é o de introduzir tons no raciocínio com uma inclinação para o lado otimista. Por exemplo, Annie entendeu que ela teve o amor de seu marido, ainda que ele tenha se mostrado um pouco cansado em alguns momentos. Ela aprendeu a dizer: “Eu vou me sair vencedora com a ajuda de Deus.” “Existem coisas que faço que dão errado, mas existem outras que faço bem.

4. Não critique e castigue a você mesmo. Outra tendência de uma pessoa deprimida é estar permanentemente julgando suas ações, enfatizando os erros. Os deprimidos tendem a ignorar suas virtudes e focalizar as fraquezas. Esta autodepreciação incapacita e destrói. Por outro lado, o reconhecimento de virtudes constrói um novo futuro.

5. Exclua a tirania do “eu devo”. Quando se permite o crescimento do “eu devo”, este se torna um tirano permanente, fazendo demandas excessivas. Ao invés de “eu devo”, aprenda a adotar a atitude “eu preferiria.” O anterior é uma demanda tirânica, um fracasso que leva à baixa auto-estima. O posterior é uma aspiração, uma meta a alcançar. Se há um tempo em que os deveres precisam ser mais flexíveis, este tempo é quando você está deprimido.

6. Evite situações desagradáveis e estressantes. Como ir a funerais, por exemplo. Tais eventos acrescentam tensão a um indivíduo, particularmente a alguém com tendência à depressão.

7. Reconheça seus valores e virtudes. Reconhecer a sua própria capacidade e valor pessoal faz parte do caminho do bem-estar.

8. Aprenda a desfrutar e obter satisfação no que você faz. Depressão é o resultado de um fracasso em desfrutar a beleza e as bênçãos da vida. Benjamin Franklin disse bem: “O homem rico não é aquele que tem tudo, mas o que desfruta tudo o que tem.” Aprender a reconhecer o bom e o bonito ao redor de nós é um salto transcendente à descoberta da felicidade de viver.

9. Promova esperança. Desesperança é um componente essencial da depressão. A desesperança tem relação próxima com sintomas depressivos e tendências suicidas. Uma pesquisa sobre tratamentos para a depressão indica que a redução da desesperança é um fator importante de resultados bem sucedidos, particularmente durantes as primeiras semanas de tratamento.

Como lutar contra a desesperança? Desenvolvendo confiança em Deus, construindo autoconfiança, estimulando recursos pessoais e mobilizando forças mentais e espirituais para criar uma atmosfera esperançosa. Esperança é acreditar que sempre existe uma saída. Por isso, perguntamos a Annie: “O que você fará depois que superar a depressão? Como será o dia seguinte?” Planejando o futuro, para viver com seus filhos, ela foi capaz de visualizar uma vida feliz. Pouco a pouco, viu sentido na vida e a luz começou a surgir.

10. Confie em Deus. Envolvimento religioso é uma variável importante que recebeu atenção em recente literatura em depressão. Vários estudos de alto perfil indicam que certos aspectos de religiosidade (por exemplo, envolvimento religioso público, motivação religiosa intrínseca) podem ser inversamente relacionados aos sintomas depressivos. Ou seja, quanto maior o envolvimento religioso, menores serão os sintomas da depressão.

"Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos" (Filip. 4:4).

Veja também:
 http://prgilsonmedeiros.blogspot.com/p/blog-page_19.html

Comentários

Pastor,
tenho 19 anos e penso,so tao nova e me acho muito problematica psicologicamente,sabe,Cristo me chamou para uma reforma,um reavimento e eu respondi,mas acabei caindo e agora estou me sentindo tao triste,tao mal,nao sei o que houve,Deus tinha me dado um pensamento de animo,de esperança e,agora parece que esse pensamento esta se dissipando em minha frente,nao sei mesmo qual é o meu problemo,quero entender.
ate quando vou viver assim,com esses problemas em minha mente.
me ajude pastor.
Gilson Medeiros disse…
Olá, Valéria.

Momentos difíceis todos nós passamos. A diferença está na maneira como encaramos o "depois" da tempestade.

Sugiro que você leia bastante sobre o amor de Deus, revelado em Jesus. Isso te ajudará a entender que não há nada neste mundo que seja tão importante para que deixemos Deus de lado.

Por mais falhos e pecadores que sejamos (e todos somos), Deus nos ama mesmo assim. Que certeza maravilhosa!

Como dizia Ellen White: se parássemos 1 hora a cada dia para estudar sobre a maravilhosa Pessoa de Jesus, e Seu amor por nós, seríamos cristãos de aço! Inabaláveis!

Pense nisso!
Anônimo disse…
Pastor gostaria de vê algum cometario seu sobre auto-hemoterapia,quala orientação da igreja sobre o assunto. Obrigado
Gilson Medeiros disse…
Olá, não conheço nenhum material oficial da IASD sobre auto-hemoterapia.

O que já li sobre o assunto me deixou em dúvida sobre o tratamento. Não encontro nada na Bíblia ou Espírito de Profecia que defenda este tipo de "tratamento".

Um abraço.
Gilson.
Anônimo disse…
Pastor,

Minha esposa é a Anne escrita, tanto na idade, como na composição familiar e principalmente na depressão.
Mas gostaria de saber como eu posso ajuda-la a superar esta doença.
Gilson Medeiros disse…
Caro esposo da Anne, seguindo os "mandamentos" anti-depressão sua esposa já terá uma grande melhora na depressão. Mas é importante saber se o quadro dela já está avançado o suficiente para que necessite de uma ajuda profissional.

Sugiro que procurem um bom psicólogo ou psiquiatra cristão, se for Adventista melhor ainda... para juntos poderem tratar a depressão da sua esposa.

De início, uma boa caminhada pela manhã, depois de um momento de meditação do casal, já será uma tremenda "vacina".

Um abraço.
Gilson.
leandro almeida disse…
minha depressão era minha vida sentimental...não conseguia arrumar namorada...mas hoje não me preocupo mais com isso...quero ensinar para as pessoas a verdade da biblia e falar do amor de jesus cristo
Lucyanna disse…
Olá Pastor! Tudo bem?
Pastor, vejo que minha mãe possui alguns sintomas de depressão como: só querer estar deitada, não querer sair, indisposta pra tudo e não se alimenta muito bem e já emagreceu por causa disso. Eu, sinceramente, não sei o que fazer. A minha pergunta é: Quando é que sei que ela precisa de um profissional? Existe um local onde posso encontrar um profissional adventista que possa ajudá-la?
Gilson Medeiros disse…
Olá, Lucyanna

A depressão é um mal terrível, e deve ser encarado como uma doença, como as outras.

Quando a depressão chegar ao estágio de deixar a pessoa complemente afastada do "mundo", isolada, falando em suicídio, etc., já está passando da hora de procurar ajuda profissional.

É possível que em sua cidade exista algum bom Psicólogo Adventista (ou cristão) para ajudar sua mãe a superar esta fase. Talvez o pastor do seu distrito conheça alguém.

Na Internet existe um site que trabalha com este tipo de atendimento.

http://www.portalnatural.com.br/#axzz2ZxX5JPBM

Estaremos orando por sua mãe.

Um abraço.
Gilson.
A.K.Renovatto disse…
Muito bem saber que o blog aborda esse tema. As pessoas deveriam dar mais atenção a esse tema. A pessoa com depressão sofre e muito. Pior é saber que muitas vezes, o depressivo não é compreendido. Infelizmente ainda tem muitos que acham que depressão é "frescura". A depressão é doença grave e deve ser tratada com psicólogos e psiquiatras. Muitas vezes é um caminho longo e difícil, mas jamais deve ser abandonado o tratamento e nem o apoio de pessoas próximas. Gratificante ler esse artigo! Deus abençoe, pr Medeiros.
Unknown disse…
Oii, tenho 27 anos e há 7 meses fui diagnosticada com síndrome do pânico. Fiz tratamento por 2 meses com antidepressivos, parei por conta própria, voltei com a alimentação saudável e faço academia, mas me sinto muito medo de ficar sozinha, de morrer de solidão. Sou casada há mais de 6 anos,com um ex-adventista e alcoólatra. Tenho vivido anos de sofrimento e rejeição por ele, é como se Deus tivesse esquecido de mim... Não tenho expectativas ou esperança,é como se estivesse morrendo aos poucos...
Unknown disse…
Oii, tenho 27 anos e há 7 meses fui diagnosticada com síndrome do pânico. Fiz tratamento por 2 meses com antidepressivos, parei por conta própria, voltei com a alimentação saudável e faço academia, mas me sinto muito medo de ficar sozinha, de morrer de solidão. Sou casada há mais de 6 anos,com um ex-adventista e alcoólatra. Tenho vivido anos de sofrimento e rejeição por ele, é como se Deus tivesse esquecido de mim... Não tenho expectativas ou esperança,é como se estivesse morrendo aos poucos...
Gilson Medeiros disse…
Olá Maiara

Se tem uma coisa da qual tenho CERTEZA, é que Deus não Se esquece de nós. Sempre somos nós que fugimos para longe dEle, mas Seu amor continua estendendo a mão para nos trazer de volta.

Sugiro que procure um psiquiatra cristão, retome o tratamento e também busque o auxílio do pastor Adventista mais perto de você. Também coloco meu email à disposição, caso deseje conversar.

Quero ainda lembrar que Jesus é capaz de ressuscitar nossa esperança e nossa vida, mas, algumas vezes, precisamos, com nosso empenho humano, retirarmos a pedra. Entende?

Um abraço
Gilson
A.K.Renovatto disse…
Maiara, eu entendo o que você passa, mas parar com o tratamento só piora a situação. Minha esposa tem depressão, síndrome do pânico, TOC, é Bipolar (uma coisa foi chamando outra) enfim, ela como você foi diagnosticada, fez tratamento psiquiátrico por um tempo, depois por decisão própria abandonou os remédios (escondido de mim, é "barra"). Nessa semana mesmo ela teve uma crise de pânico, estava na rua, começou a chover e ventar e ela ficou literalmente paralisada, enfim, com sensação de ataque cardíaco (batimentos acelerados, arritmia, dor no peito), sudorese, tremores, medo "fora da realidade", pupilas dilatadas,tontura, sensação de um "bolo" na garganta, falta de ar e falando que ia morrer (a sensação desse problema é que vai mesmo morrer). Foi aí que descobri que ela havia parado com parte dos remédios...Por mais que seja ruim ficar tomando remédios, têm que seguir as orientações do psiquiatra. Sei que é difícil aceitar um diagnóstico assim, mas o primeiro passo é aceitar que tem a Síndrome do Pânico, o segundo passo é seguir o tratamento psiquiátrico rigorosamente. Eu já dei meu "puxão de orelha" na minha esposa, porque uma das dificuldades dela é aceitar que têm problemas que precisam de remédios e tratamento contínuo, mas como falei para ela, não adianta fingir que não precisa de remédios e depois voltar às crises de pânico. Melhor seguir direitinho o tratamento e pode ser interessante como o Pr Medeiros sugeriu, você conversar com o seu pastor, pode ser interessante para receber ajuda com orações e creio que todo Pr tem que estar preparado para ajudar os necessitados com conselhos, uma oração, ou apenas uma conversa mesmo. Espero que Deus lhe abençoe e toque no seu marido para que ele busque a Jesus, porque talvez, parte do seu problema, possa estar relacionado ao problema de alcoolismo e falta de interesse do marido. Seria bom se ambos procurassem o pastor (deve ser adventista, então procure um pastor adventista) e talvez com apoio, seu marido tivesse forças para voltar para a igreja e creio que seria bem mais fácil os dois caminhando juntos do que assim, meio em "descompasso". Se achegue a Jesus, Ele é seu melhor Amigo, mas procure um tratamento psiquiátrico. Não se entregue a esses sentimentos de solidão, vontade de morrer, isso é grave e sei do que falo, não deixe o problema agravar. Tenha fé e esperança.
Anônimo disse…
Depressão é terrível, só quem tem sabe como é difícil, sem tratamento a vida torna-se insuportável, então é preciso buscar tratamento e Deus.