Como tratar um irmão faltoso?


Estes dias eu estive conversando com um amigo (não evangélico), e ele me dizia da sua má impressão com relação a forma como as igrejas tratam aqueles que cometem erros... O início da conversa foi exatamente após comentários referentes aos últimos escândalos envolvendo padres, pastores e líderes espíritas.

No caminho para casa, pensando no que meu colega de trabalho havia dito, recordei que há alguns anos, a Lição da Escola Sabatina abordou um tema muito interessante, que tinha a ver com o que eu havia conversando naquele dia. 

Na época, houve um trecho que me deixou muito intrigado, e fiquei me perguntando se, como Instituição, os Adventistas têm agido da mesma maneira hoje, cerca de 2000 anos depois do início da Igreja de Jesus.

O trecho que me tocou foi:


"Na semana passada [refere-se à Lição 8], vimos a surpreendente transformação desse apóstolo, que passou da instabilidade para ser uma coluna da igreja. Depois de sua queda desastrosa, como teria sido fácil, tê-lo afastado do serviço do Senhor! Mas, como vimos, não era essa a intenção de Deus para este herói imperfeito" (lição do dia 23-08-2008).
 

A ideia central do parágrafo, que é uma compreensão do autor da Lição, bem como da Comissão Geral que edita o estudo, é que Deus preferiu não colocar Pedro para "escanteio", pois tinha uma grande obra para que ele realizasse.

Há algum tempo eu coloquei aqui uma postagem sobre a "ilógica" divina no trato com o ser humano. Foi uma reflexão de como Deus age, às vezes, de forma totalmente oposta à que nós agiríamos na mesma situação. Alguns exemplos:

- O "Manual" da época de Jesus mandava que a mulher adúltera fosse apedrejada, mas Ele preferiu perdoá-la.
- A "Comissão Diretiva" da época teria determinado o imediato afastamento de Davi da liderança do "distrito", mas Deus preferiu mantê-lo no trono.
- Esta mesma "Comissão" com certeza também teria decretado que Manassés não teria mais condições morais nem éticas para permanecer como rei do seu povo, mas o Senhor achou melhor mantê-lo na liderança.


Parece que com Pedro a "ilógica" divina se repetiu...

Todos conhecemos o relato, que foi exaustivamente estudado durante a lição da Escola Sabatina que citei acima: 


- aquele que havia sido um dos mais íntimos seguidores de Jesus, covardemente O negou na hora mais dura de Seu ministério terrestre.

Como a lição mencionou, "depois de sua queda desastrosa, como teria sido fácil, tê-lo afastado do serviço do Senhor!

Essa é a lógica humana: 

- afastar os que se mostram "imperfeitos". 

Tenho plena certeza que na maioria das reuniões de Comissões de Igreja atuais, o apóstolo "covarde" teria sido, no mínimo, disciplinado por censura... sem falar nos oficiais mais "zelosos" que achariam melhor eliminá-lo de vez do rol de membros, pois sua conduta era um "opróbrio" à Igreja (já observou como alguns gostam de usar estas expressões rebuscadas para justificarem seu espírito cruel e vingativo?!). 

"Chamar o pecado pelo nome" é a expressão legalista (hipócrita?) mais utilizada por estas pessoas de coração duro e não convertido à graça do Evangelho de Cristo.

Quantas vezes nós preferimos "enterrar" a vida espiritual de algum irmão ou irmã que cometeu falhas em sua jornada, do que lhes oferecer uma nova oportunidade de restauração e, porque não dizer, de salvação! 


Nós nos preocupamos muito mais com a "letra" da lei do que com o "espírito" dela. Ou seja, estamos farisaicamente (e hipocritamente) mais propensos a cumprir o que está no Manual da Igreja, do que em levarmos em conta o "Manual de Deus" - a Bíblia.

Uma Lição de 2011 tratou das "Emoções Humanas", e abordou o tema do PERDÃO. Lembro de um debate que se levantou na Unidade da Escola Sabatina na ocasião, pois todos mostraram que têm "reservas" quanto a se perdoar alguém que teve um passado bem "nas trevas". 


O que ficou verificado é que "PERDOAMOS" MAS NÃO ESQUECEMOS, e alguns até usam como argumento o fato de que devemos ser "prudentes", e não dar total crédito àqueles que se dizem arrependidos.

Pedro, se fosse membro de algumas das igrejas da atualidade, jamais seria visto novamente com o mesmo respeito de antes. Quando os Evangelhos começaram a circular na igreja da época (alguns anos depois da ressurreição de Jesus), como você acha que os irmãos reagiram ao tomarem conhecimento dos detalhes da negação de Pedro? Será que alguém se levantou propondo uma "disciplina eclesiástica" ao santo apóstolo? Ou passaram a ver Pedro como um líder de segunda classe, por causa de seu passado (como fazemos hoje com nossos líderes que erram)?

Claro que não! 


E sabe por quê?
 

"Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum" - Atos 2:44.
"Da multidão dos que creram era um o coração e a alma..." - Atos 4:32.


Que Igreja abençoada! 

Você consegue imaginar como estas palavras foram colocadas em prática?! 
Eles não tinham tempo para perderem em reuniões e mais reuniões com o único propósito de dilacerar a carne de seus "irmãos" faltosos, pois havia um mundo que precisava conhecer acerca de Jesus.

Hoje, infelizmente, as coisas estão muito diferentes. 


As Comissões se reúnem, quase que exclusivamente, para tratarem de questões secundárias, enquanto que bilhões de pessoas ainda não conheceram acerca de Jesus... pelo menos não do Jesus dos Adventistas do 7º Dia - o verdadeiro Jesus!

Quando nossos "Pedros" caem, nós preferimos colocá-los para escanteio, e assim deixamos de contar na Obra com pessoas de dons maravilhosos, mas que por questões "burocráticas" são impedidas de atuarem plenamente na salvação de almas, e assim poderem se redimir de seus erros.
 

Certa vez ouvi de um importante administrador aqui de minha região a seguinte frase: 

"A Igreja é o único exército que abandona seus soldados feridos pelo meio do caminho"

O curioso foi que este líder agiu da mesmíssima maneira em diversas ocasiões.

Realmente, como disse a Lição, é muito fácil afastar os "Pedros" do serviço do Senhor... e fazemos isso constantemente em nossas igrejas. 


Mas louvado seja Deus porque Ele não os afasta de Seus planos!

Enquanto continuamos tratando nossos "Pedros" da maneira como os fariseus tratariam, fazemos com que o poder que era visto na Igreja Primitiva não seja visto intensamente entre nós.

O maior Impacto de Esperança que podemos dar ao mundo é quando eles virem na Igreja uma comunidade de verdadeiros "irmãos", que cuidam de seus feridos com o mesmo amor com que o Seu Mestre cuidou do passado.

Neste mundo mal, egoísta, cruel e vingativo em que vivemos, o mínimo que os não-crentes esperam é que os "irmãos vivam em união".
 

"Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros" - João 13:35.

veja também:
- E se eu voltasse... como seria recebido?
- Como resgatar ex-Adventistas





Comentários

A.K.R disse…
Que texto excelente e oportuno! Esse tema deveria ser lido e debatido em várias igrejas, para que alguns irmãos menos esclarecidos possam ter quem sabe um novo olhar sobre o assunto.
Anônimo disse…
"Antes de ferir um coração, certifique-se que você não está dentro dele."

Cacau