Quando o crente peca...

Algumas passagens das Escrituras são fáceis de entender... outras, porém, trazem um certo "desconforto" ao nosso entendimento.

Veja esse exemplo:

"A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai nem o pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo será sobre ele, e a impiedade do ímpio será sobre ele.
Mas se o ímpio se converter de todos os seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer o que é de equidade e justiça, certamente viverá, não morrerá.
Nenhuma das suas transgressões que cometeu, será lembrada contra ele; na sua justiça que praticou viverá.
Acaso tenho eu prazer na morte do ímpio? diz o Senhor Jeová; não quero eu antes que se converta do seu caminho, e viva?
Mas quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer iniquidade, e fizer conforme todas as abominações que faz o ímpio, acaso viverá ele? Não será lembrado nenhum dos seus atos de justiça que praticou; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado com que pecou, neles morrerá
" - Ezequiel 18:20-24.


Em uma leitura comum, o texto inspirado parece trazer uma mensagem de graça para com aqueles que entregam seu coração a Deus, e se arrependem do mau caminho. E isso é verdade, pois o profeta diz que se um ímpio se converte, seu passado pecaminoso é apagado, e agora ele faz parte do Reino de Deus, como uma nova criatura.

Mas, com relação ao "crente", o mesmo acontece... ou seja, se ele comete um pecado, e morre neste pecado, toda a sua vida de "santidade" não é levada em conta, e ele é tratado como se NUNCA houvesse se convertido ao Senhor.

É justo?!

Bem, o próprio profeta antecipa esta dúvida, e continua a passagem do cap. 18 esclarecendo aos seus leitores/ouvintes sobre a justiça perfeita de Deus.

Não quero, hoje, entrar no mérito hermenêutico dessa declaração de Ezequiel.
O que me motivou a escrever a postagem foi a maneira como costumamos tratar aqueles que se desviam do caminho de Deus e, ao menos aparentemente, se afastam dEle.

Tendo dificuldade para entender este comportamento que a Igreja costuma ter para com os "afastados", ou para com os que cometem alguma falta grave. Aos poucos eles vão sendo esquecidos pelos "irmãos", e é como se nunca tivessem participado daquela comunidade de crentes - a igreja.

Igreja x Clube Social

Aceitei a mensagem evangélica aos 19 anos de idade. Já se vão 24 anos desta decisão! Ou seja, tenho mais tempo vivendo "no Evangelho" do que antes dele. E durante este período já conheci muita gente que hoje não faz mais parte da comunidade da Igreja, pelo menos não mais de forma "ativa" (pois creio que muitos, mesmo "afastados", continuam vivendo um Evangelho bem mais coerente do que outros que nunca "perderam um sermão").

Me recordo de muitos líderes que viviam, respiravam, comiam e bebiam "a Igreja". Suas horas de folga, seus finais de semana, suas amizades, e até mesmo suas escolhas de trabalho e estudos, tudo girava em torno da "vida eclesiástica":

- estudos bíblicos 3x na semana, na casa de interessados;
- reuniões de departamentos e comissões, ou ensaios 2x na semana;
- cultos 3x na semana;
- evangelismo público nas férias e em outras datas do ano;
- finais de semana em retiros, caminhadas, acampamentos, congressos, seminários, etc. etc. etc.;
- madrugadas dedicadas às vigílias de consagração e/ou estudo da Palavra;
- oportunidades de trabalho dispensadas por questões de cunho religioso;
- contribuições financeiras aos projetos e obras missionárias;
- preconceito de ex-amigos e familiares que não aceitaram sua conversão.

Como disse, me recordo de alguns nomes que pautavam suas vidas por estas escolhas e atividades... porém, em algum ponto da jornada estas pessoas desviaram o pé... e "caíram em pecado".

E o que aconteceu?
Foram disciplinadas, afastadas, esquecidas...
Aqueles "irmãos" que ouviam suas pregações e elogiavam seus "dons", agora não os visitam mais... não os convidam para o açaí do sábado à noite... não se lembram deles nas ocasiões festivas da Igreja... no geral, o único dia em que são "lembrados" é por ocasião do Programa do Reencontro, ao final do ano.

Agindo assim, vejo que a Igreja não passa de um Clube Social, no qual você só é "valorizado" quando faz parte, é sócio... deixou de ser, já não tem mais "direito" a participar dos eventos e encontros.

Um crente que caiu em pecado e está sentindo o peso da culpa, só gostaria de acreditar que sua Igreja, seus "irmãos", o acolheriam e amparariam nesse momento difícil. O medo dos julgamentos e a hipocrisia dos que apontam os dedos é que faz com que a maioria vá se afastando aos poucos, até um dia não voltar mais.

Sabe quando você está em um local muito bacana (por exemplo, uma festa ou encontros de amigos), e você lembra de uma pessoa que não está ali? O que você faz? Envia uma mensagem ou liga só para dizer: "rapaz, vem pra cá, só está faltando você aqui!".

É isso que o crente que pecou gostaria de ouvir... "você faz falta.. venha!".

A maioria de nós só diz isso SE a pessoa, por iniciativa própria, for um dia novamente no culto... ai não faltam os abraços hipócritas e os apertos de mão com aquele sorriso falso e as palavras: "que bom que você veio... estava com saudades"... não estava! Se estivesse, lembraria da pessoa durante a semana e não apenas quando esbarra com ela na igreja.

Não é fácil ser um ex-crente... especialmente se a pessoa foi líder na Obra do Senhor... ela sente falta... deseja voltar.... mas, muitas vezes, não sente que sua falta seja percebida... e o inimigo vai vencendo novamente.... a voz do Espírito Santo vai silenciando, até não ser mais ouvida.... infelizmente!

Aquela pessoa que dedicou sua vida à Obra de Deus, à Igreja e ao Evangelho... é deixada de lado... apenas porque cometeu um erro, um pecado.

Por isso ainda não entendi o texto de Ezequiel 18...
Quem sabe um dia eu o entenda por completo!

veja também:

http://prgilsonmedeiros.blogspot.com.br/p/blog-page_19.html


Comentários

A.K.Renovatto disse…
Esse tema é delicado, principalmente quando se trata de líderes que pecaram. Isso porque líderes servem de "espelho" para os membros de uma congregação e se de repente, àquele que deveria servir de exemplo, cai (peca), é comum as pessoas se ressentirem, desprezarem etc. A questão é que líderes são pessoas como outra qualquer e têm falhas também, embora muitos gostem de "endeusar" líderes! O dever de qualquer que seja a igreja, é acolher e ajudar àqueles que caíram a se levantarem. É difícil, porque é da natureza humana querer julgar, criticar. Na verdade, se esquecem que na maioria das vezes, quem pecou já está sofrendo e sabe que errou, portanto, não precisa de pessoas apontando sem parar os seus pecados. Tanto aquele líder que pecou, quanto aquele membro que senta no último banco,que pecou, merecem o mesmo cuidado, atenção, amor e compaixão, misericórdia. Nesses momentos é bom desenvolver empatia! Não significa apoiar o erro do outro, ou deixar a pessoa sem responder por seus atos, mas sim, estender a mão e se prontificar a ajudá-lo a se reerguer, perdoar.
Alex G. Pires. disse…
Muito bom este post. É por isso que existem tantos "desigrejados" esse movimento de adorar somente ao nome do Senhor Jesus nas casas. O crente tem que mudar nestas coisas que o irmão disse. O blog BUSK BÍBLIA tem uma matéria muito interessante da visão que os adventistas fazem dos céus e do paraíso. Será que é aquilo mesmo? Gostei!