Sermão é bom, mas... não muda vidas!

Não sei quantos lembram, mas há alguns anos praticamente todos os noticiários apresentaram a manchete de uma atendente de loja nos Estados Unidos, que evitou um assalto após falar de Jesus para o ladrão (veja aqui).

O homem realmente desistiu de assaltar a moça, que disse ser "evangélica". Segundo ele, o motivo do assalto era porque estava para ser despejado, e precisava de US$ 300 para pagar o aluguel.

Algumas horas depois o ladrão foi preso, após tentar assaltar outra loja.

Me veio a pergunta: Sermão resolve?

Lembro que na época eu ouvi pessoas dizendo: 
"Tá vendo!? Ladrão é assim mesmo!" ou 
"Não aproveitou a oportunidade de salvação, e acabou sendo preso".

Mas eu gosto de pensar "nos dois lados", pois tenho adquirido o hábito de tentar me colocar no lugar "do outro", para entendê-lo. Isso se chama EMPATIA.

Aquele rapaz não estava precisando de um sermão, mas sim de US$ 300. É claro que isso não justifica seu erro, mas será que a jovem não poderia ter feito "algo mais"? Ela não poderia ter "andado a segunda milha"? Quem sabe ter ligado para algum empresário membro de sua igreja, para emprestar o dinheiro ao rapaz... ou ter feito uma consulta às Dorcas ou ADRA de sua igreja local... Será que o papel dela era apenas o de "pregar"? "Falar" de Jesus? 

O ladrão saiu com a consciência pesada por quase ter feito algo de errado, mas será que ao virar a esquina não deu de cara com o proprietário da sua casa, perguntando: "e ai, já arranjou o dinheiro? Lembre-se que você só tem até hoje..."? Será que não recebeu uma ligação da esposa perguntando: "e ai, seu imprestável, conseguiu o dinheiro do aluguel?"

Recordo-me que Jesus não Se limitava a "pregar" apenas... 
Ele também Se preocupava em satisfazer as necessidades dos Seus ouvintes. Lembra da primeira multiplicação dos pães? Os discípulos (nós!) achavam que a pregação por si já estava de bom tamanho, mas qual foi a atitude de Jesus?

"Ao cair da tarde, vieram os discípulos a Jesus e lhe disseram: O lugar é deserto, e vai adiantada a hora; despede, pois, as multidões para que, indo pelas aldeias, comprem para si o que comer. Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se; dai-lhes, vós mesmos, de comer" (Mateus 14:15-16).

Viram como nós, os discípulos, somos muito insensíveis às necessidades dos nossos "irmãos"?! 

A gente tem uma forte tendência a achar que nossa parte é pregar, falar de Jesus. Quem não quiser aceitar, que se vire! Já fiz minha parte! Estou livre do "sangue" deste!!!

Mas cada vez que tiro tempo para refletir sobre a maneira de Jesus agir, eu fico mais convicto do quanto os Seus discípulos do passado e os de hoje O compreendem mal. Recentemente reli o excelente livro "Parábolas de Jesus"... que coisa linda era a maneira dEle de tratar e ensinar as pessoas!

Na mente dos que ouviram as palavras de Jesus naquela multiplicação miraculosa que citei acima, uma profunda impressão deve ter ficado. Anos depois, Tiago escreveu sua epístola e fez questão de "detalhar" aquilo que Jesus lhes havia ensinado:

"Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tiago 2:15-16).

Fico imaginando como seria o nosso mundo se os bilhões que professamos o Cristianismo "fizéssemos" nossa parte!

- Ainda haveriam crianças nos orfanatos?
- Existiriam famintos nas cidades?
- Teríamos irmãos morando de aluguel, enquanto nós gastamos no luxo para ornamentar as nossas moradias?
- Haveria falta de sangue nos hospitais (ou será que nossa "obrigação" se resume às fantásticas manifestações em eventos jovens durante a Semana do Calvário)?
- Os políticos que se auto-intitulam de cristãos (e até de Adventistas!) seriam vistos nos noticiários policiais envolvidos em corrupção ou bandidagem?
- Seríamos tão frios e insensíveis diante de tanto sofrimento e miséria que devasta a vida de milhões de pessoas que cruzam nosso caminho todos os dias?

Deixa eu parar por aqui... senão vai ficar parecendo que o Cristianismo verdadeiro é uma utopia.

E eu ainda acredito que não é.... Ele é real! 
Só precisa de menos sermão e mais ação!

veja também:
- Para quê tanto sermão?!
- A parte mais importante do culto é mesmo o sermão?
- A real eficácia de um sermão


Comentários

Anônimo disse…
O sr tem toda a razão! Se cada cristão resolver assumir sua verdadeira posição o mundo seria totalmente diferente, e até seríamos enxergados com outros olhos. O problema é que nós seres humanos temos uma hipocrisia natural, que carregamos em nossa genética.
Concordo. Preciso desenvolver essa parte em mim também, desenvolver o lado da caridade, pois está muito fraco. A maioria das pessoas me pedem dinheiro, não me pedem alimento e quando pedem alimento, estamos longe de algum lugar para comprar esse alimento. Vou ficar vigilante, estou pedindo a Deus que quando me pedirem alimento eu esteja próxima de algum lugar para comprar o alimento.

Penso em fazer isso:
A pessoa diz "Me dá dinheiro."
Eu disfarço compro o alimento e digo "Meu dinheiro só deu para comprar um alimento. Toma o alimento, pois é seu."

Amei essa parte, é bom que aqui eu estou aprendendo a Bíblia: "Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?" (Tiago 2:15-16).
Débora Avelar disse…
É verdade!! Li esse versículo no livro de Tiago à algumas semanas atrás, e agora vendo o seu post de maneira mais profunda, nos leva a refletir sobre as nossas atitudes diárias. Infelizmente temos uma fraqueza, um egoísmo, que nos leva a achar que somente falando de Jesus, estamos fazendo a nossa parte (com o intuito de conseguirmos salvação somente pelas obras).
Devemos buscar sempre em oração ao Pai, colocar em nosso coração o amor ao próximo, não somente à nos mesmos, assim tirar a tendência do egoísmo e sermos iguais a Cristo em Seu caráter e essência. E se eu fosse o sr. não deixaria de pregar, não... Ao ler esse post, na minha opinião, em forma de pregação, seria uma excelente oportunidade, em dar uma "sacudida" no nosso coração, que infelizmente adormecido e endurecido pelas nossas transgressões, a refletirmos e mudarmos nossa postura perante a vida e às pessoas ao nosso redor. Adorei seu post! Fique com Deus!!
Gilson Medeiros disse…
Cara Débora, obrigado pelo comentário.

Um abraço.
Gilson.
A.K.Renovatto disse…
Ótimo texto! Creio que a moça que falou de Jesus para o ladrão (que evitou um assalto), fez o que achou certo naquele momento e talvez devido a situação complicada nem tenha raciocinado direito. Aliás, é o que a maioria dos cristãos creem ser o correto, falar de Jesus e pronto. No geral estamos bem aquém do modelo deixado e ensinado pelo Mestre. O Pr falou certo ao falar da empatia. Se cada cristão exercesse empatia, iríamos além de palavras, sermões. Falar de Jesus é nobre, necessário, mas além disso devemos tentar "sentir" a dor do próximo, as necessidades, exercer misericórdia se colocando por um momento no lugar do outro. É engraçado (porém, triste), quando uma pessoa fala que está passando por dificuldades e o outro (cristão) diz que irá orar, dá um tapinha nas costas e talvez até diga: "Estarei orando, seja firme" e se despede se sentindo com "missão cumprida". E aí? Deus pode ajudar mesmo, mas naquele instante a pessoa precisava sim de oração, mas de ação. Excelente reflexão, e o parabenizo por falar de um tema pouco falado, levando pessoas à meditação. Deus continue lhe capacitando nesse ministério.
Anônimo disse…
Gostei do post. Apenas falar é pouco em certos momentos. Gosto de acompanhar o blog e sempre procuro pelos comentários recentes e não está dando para visualizar, fica mais fácil quando está a lista de comentários recentes, para achar e ler.
Cece Meira disse…
Infelizmente a empatia está ausente nos lugares onde ela devia permanecer. Nesse caso entre os cristãos.
Quem professa ser cristão ou pertencer a uma denominação religiosa deveria viver o que prega com atos, não apenas com palavras. Não são todos os cristãos que são assim, mas infelizmente a maioria julga, ao invés de ajudar, alguns são hipócritas. E são pedras de tropeço para que novas pessoas se acheguem a Cristo. Por conta desses, muitos deixam de aceitar um convite para conhecer a igreja e mudar de vida.