Um importante princípio na interpretação das profecias

Certa vez, durante um sermão, o pregador fez menção a Apoc. 12:6:

"A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias".

Acontece que ele leu o texto dizendo "1260 anos", o que causou estranheza em algumas pessoas que leram, literalmente, "1260 dias". 

Porém, aqueles que estão familiarizados com o estudo das profecias apocalípticas (em especial as de Daniel e Apocalipse) entenderam perfeitamente que o pregador apenas "explicou" o que o texto dizia.

Eu percebi na ocasião que este tema não é totalmente compreendido pelos Adventistas recém-convertidos, o que é uma pena, pois a própria base da existência da IASD está no entendimento da profecia dos 2300 "dias" de Dan. 8:14.

Interpretação no mundo cristão

De um modo geral, os evangélicos e católicos interpretam alguns textos proféticos crendo que os "dias" devem ser entendidos literalmente, ou seja, quando Daniel fala que a "purificação" do Santuário ocorreria após 2300 dias, a maioria dos cristãos situam este período historicamente na época de Antíoco Epifânio, um personagem que causou contaminações ao Santuário de Israel, algumas décadas antes de Jesus nascer.

Mas, "curiosamente" (ou seria "incoerentemente"?!), estes mesmos estudiosos evangélicos defendem o princípio dia=ano na interpretação da "última semana" de Dan. 9:24. Em consequência disso, estas pessoas acreditam que haverá um período de 7 anos de dominação do "anticristo", nos momentos finais da História Terrestre. 

Quem já leu ou assistiu a alguma obra da equivocada série "Deixados para Trás" (Left Behind, nos Estados Unidos) sabe do que estou falando.

Ai vem a pergunta que não quer calar: 
"Se o princípio dia=ano vale para esta última semana da profecia, por que não vale também para o restante das profecias de Daniel?"

Por isso que eu tenho receio em escolher partes nas Escrituras que sejam mais "convenientes", e desprezar o restante do Texto Sagrado (veja o que fizeram com Êxo. 20:8-11).

O Princípio Dia=Ano

Tomando por exemplo a profecia dos 2300 dias de Daniel 8:14 (ou "tardes e manhãs"... dá no mesmo), o contexto sugere que ela se desenvolveria por um período de tempo bem extenso, além do tempo de Daniel, conforme os versos 17 a 26 (o que descarta totalmente o argumento de que Antíoco seria o cumprimento deste período profético). 

Os 2300 dias, tomados literalmente, representariam pouco mais de 6 anos, o que não daria a extensão descrita pelo ente celestial a Daniel (com cumprimento “ao tempo do fim”). O contexto mostra que a profecia envolveria os reinos Medo-Persa (v. 20), Grécia (v. 21) e um reino que viria depois destes (vv. 22-25), historicamente tratando-se de Roma.

Portanto, os 2300 dias da profecia de Dan. 8:14 não podem ser entendidos literalmente, mas sim como “dias proféticos”, que tinham o valor de 1 ano para cada 1 dia

Há algum meio de comprovar este princípio “dia-ano” através da Bíblia? Vejamos...

a) Lev. 25:8 – as sete semanas de ano, cada dia por um ano.
b) Núm. 14:34 – os 40 dias, cada dia por um ano.
c) Ezeq. 4:6-7 – os 40 dias de exílio, cada dia por um ano.

Fica evidente, após um estudo acurado e destituído de preconceitos, que todos os esforços para harmonizar o período da profecia de Dan. 8:14 como sendo de 2300 dias, ou 1150 dias (como uma edição da NTLH traduziu erroneamente há alguns anos), com qualquer época histórica que se mencione nos livros de Macabeus e em Josefo, têm sido inúteis.

Parece impossível encontrar os acontecimentos separados por 2300 dias, que corresponderiam com a descrição de Daniel 8

A única forma em que se pode dar consistência a estas “tardes e manhãs” é computá-las mediante a aplicação bíblica do princípio dia-ano.

Aplicando-se tal princípio à profecia de Dan. 8:14, vemos que os 2300 dias representam, na verdade, 2300 anos. Portanto, ao final deste período o Santuário seria vindicado em seu real propósito de ensinar a perfeita, eficaz e completa mediação de Jesus em nosso favor no Santuário Celestial. Ao fim deste período, a mensagem de mediação sumo-sacerdotal de Jesus seria “restaurada”, e o Santuário Celestial seria “vindicado”, ou “justificado”, em relação ao falso sistema de mediação imposto pela igreja católica romana, através da mariolatria e dos “santos”.

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Concluindo, o princípio de que cada 1 dia em profecia é igual a 1 ano, demonstra mais uma vez a coerência hermenêutica e doutrinária dos Adventistas do 7º Dia.

Diferente de outras denominações cristãs, os ASD não ficam escolhendo partes da Bíblia para crerem ou não nelas; ou ficam aplicando um princípio hermenêutico em um determinado texto e o rejeitamos nos demais.

Deus guia Sua Igreja visível, e conduzirá Sua Igreja "invisível" a um glorioso futuro, quando, juntas, receberão Seu Senhor, Redentor e Mantenedor nas nuvens do Céu (cf. Apoc. 18:1-4).

"O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. (...) Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!" (Apoc. 22:17-20).

Maratana!

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