Dúvidas sobre Disciplina na Igreja

Tendo em vista que recebo muitos e-mails de pessoas que têm dúvidas sobre questões administrativas, em especial relativas à Disciplina Eclesiástica, aproveito para atualizar aqui algumas diretrizes que possam ajudar a clarear este tema.

À igreja foi conferido o poder de agir em lugar de Cristo. É o instrumento de Deus para a conservação da ordem e disciplina do Seu povo. A ela delegou o Senhor poderes para dirimir todas as questões concernentes à sua prosperidade, pureza e ordem” - Manual da Igreja Adventista do 7º Dia.

Algumas das perguntas mais frequentes enviadas por internautas

1. Alguém pode ser disciplinado por deixar de devolver o dízimo?
Não. Segundo o Manual da Igreja, ninguém deve ser punido por não conseguir contribuir financeiramente com a Igreja. Entretanto, caso a pessoa tenha renda regular mas decida não devolver o dízimo, ela pode ser impedida de ocupar cargos de liderança, pois não amadureceu o suficiente em sua compreensão espiritual para ser um “exemplo do rebanho”.

2. Uma jovem que use calças compridas pode ser disciplinada por este motivo?
Não há nada no Manual da Igreja que defenda uma disciplina para estes casos. Aqui, como sempre, cabe o bom senso da liderança local para não constituir “provas de discipulado” que a Bíblia não predeterminou. As jovens (principalmente as que ocupam função de liderança na Igreja) também devem usar do bom senso, e não se comportarem de forma inadequada para sua profissão de fé, usando roupas que sejam puro modismos e que servem mais para "mostrar" o corpo do que para "protegê-lo".

3. Namorar um não-Adventista é motivo para disciplina?
Novamente não há previsão para esta situação no Manual da Igreja. Assim como no caso dos dízimos, esta pessoa pode ser impedida de ocupar cargos de liderança, uma vez que não está querendo atender a uma clara orientação bíblica e do Espírito de Profecia sobre esta situação. Mas isso não se constitui, a princípio, motivo para disciplina eclesiástica.

4. Se um casal de namorados comete fornicação (relação sexual entre solteiros), eles devem solicitar a disciplina ao pastor ou ancião?
A compreensão que temos acerca do pecado é que ele é uma ofensa direta a Deus, e não à Igreja. Um jovem casal que tenha cometido fornicação, e se arrependido, estando desejoso de buscar a reconciliação sincera com Deus, não necessita (nem deve!) tornar público o seu pecado. Se ninguém mais, além do casal, sabe da situação, eles devem fazer um pacto mútuo de não voltarem mais a cometer tal ato inadequado, e se resguardarem para o casamento, onde terão ampla liberdade para realizarem o sexo natural, sob as bênçãos de Deus. Em uma cerimônia de santa-ceia, este casal recebe o perdão e a reconciliação divina, e não necessita se amargurar mais, pois Deus já lhes concedeu uma nova oportunidade (cf. 1Jo 2:1). Entretanto, se o pecado vier a tornar-se público, então não restará outra alternativa a não ser a disciplina de ambos, uma vez que, agora, a imagem da comunidade dos crentes está envolvida.

5. E um casal que foi disciplinado por ter cometido fornicação, mas cumpriram devidamente sua disciplina e estão se preparando para o casamento, podem realizar a cerimônia na Igreja?
Infelizmente, nenhum pastor Adventista tem autorização para realizar um casamento nesta situação. Se o pastor sabe (e o fato de o casal ter sido disciplinado mostra que o pecado tornou-se público) que estes jovens já praticaram o sexo antes do casamento, então ele não tem autoridade para dar a bênção pastoral sobre o enlace matrimonial. Nem mesmo um “culto de ações de graças” pode ser realizado por um pastor ordenado! O máximo que o pastor pode fazer é uma singela e breve visita ao casal, já no novo lar, para orar com eles e desejar-lhes seus votos de felicidade duradoura. Nada mais!

6. Se um Líder de Desbravadores for disciplinado pela Igreja, ele perde a “investidura” que recebeu no Clube?
O Clube de Desbravadores é um departamento oficial da Igreja Adventista do 7º Dia, a ela subordinado e vinculado. Já vimos que alguém que ocupe um cargo de liderança, e passa por uma disciplina eclesiástica, perde automaticamente seu “status” de líder da Igreja. O mesmo acontece com um Líder de Desbravadores. Caso ele seja disciplinado pela Igreja, também perderá seu “status” de Líder Investido e deve, humildemente, devolver o Lenço de Liderança para a Coordenação de seu Campo. Alguns lugares determinam que, após passada a disciplina, e este Líder for devidamente reintegrado à vida da Igreja, ele ainda deverá cumprir um período de “observação” para poder receber de volta o seu Lenço de Liderança, juntamente com as prerrogativas e responsabilidades que este símbolo confere.

7. Depois de quanto tempo alguém pode ser rebatizado, caso tenha sido disciplinado por remoção?
Uma vez que o período máximo da disciplina por censura é de 12 meses, e a remoção é o ponto extremo de um processo disciplinar na Igreja Adventista, entende-se que apenas após um período mínimo de 1 ano (a contar da data da remoção) é que alguém pode solicitar o seu rebatismo, retornando à posição de membro regular da Igreja. Lembrando que, durante este período, é necessário que o solicitante dê provas de que realmente se arrependeu dos seus erros passados e está buscando uma nova experiência espiritual de fidelidade a Deus. Por exemplo, é importante que, mesmo tendo sido removida, esta pessoa continue frequentando normalmente os cultos e vivendo em conformidade com a fé Adventista: guarda dos mandamentos, princípios alimentares, estilo de vida, divertimentos, relacionamentos amorosos, etc.

8. Quando uma pessoa que foi removida por adultério poderá retornar à condição de membro regular?
Esta é uma das situações mais difíceis que a liderança enfrenta no dia-a-dia da Igreja. Aliás, todas as situações que envolvem quebra do mandamento da fidelidade sexual, seja fornicação, seja adultério, etc., trazem sérias e dolorosas consequências para os que praticam tais pecados.
A Bíblia é clara em dizer que só há um motivo válido para que o voto matrimonial entre duas pessoas vivas possa ser “dissolvido”: relações sexuais ilícitas (cf. Mateus 19). Portanto, apenas no caso de infidelidade por parte do marido ou da esposa, é que o outro/a está livre para casar-se novamente.
Exemplo prático:
Se um membro da Igreja abandona sua esposa (não por ela tê-lo traído), e se “casa” com outra mulher, ele será disciplinado por remoção, ou seja, será desligado da condição de membro da Igreja Adventista. E assim deverá permanecer (sem poder rebatizar-se), enquanto sua ex-esposa permanecer fiel ao voto matrimonial, ou seja, enquanto ela não se envolver com outro homem. A única maneira de ele ser aceito novamente como membro, e ser rebatizado, é se ele abandonar a “nova” esposa e decidir viver como “eunuco”, isto é, em estado celibatário, caso sua ex-esposa não o aceite de volta.
Resumindo: Se este homem não quiser abandonar a atual companheira, e sua ex-esposa (a legítima!) continuar sem se envolver com outro homem, este ex-membro não poderá ser rebatizado. O mesmo se aplica a sua nova companheira.

9. Quantas vezes um membro removido da Igreja pode ser rebatizado?
Não há um número definido de “rebatismos” válidos, nem na Bíblia nem no Espírito de Profecia. O que deve prevalecer é o bom senso (sempre!), para não fazer desta cerimônia tão importante um simples “banho”, dado sem critérios e de forma inapropriada.
Se uma pessoa ainda não amadureceu espiritualmente para compreender seu real papel como membro da Igreja de Deus, e está continuamente passando pelo processo “disciplina-rebatismo”, o melhor a fazer é dar tempo para que tal pessoa participe da vida normal da Igreja, antes de rebatizá-la mais uma vez.
A experiência tem mostrado que um 2º rebatismo já é o limite da prudência.

10. Quem define a disciplina que o membro faltoso receberá?
 No caso de igrejas "organizadas", é a Comissão quem analisará o caso, sob a orientação do pastor distrital, e fará uma "proposta" para a assembleia da igreja, que terá a última palavra no caso da disciplina.
Se for um "grupo" organizado, então o pastor é quem vai analisar o caso, com o auxílio da Comissão, e decidirá pela aplicação da disciplina que for julgada mais adequada ao caso, sempre com o objetivo de resgatar o membro faltoso e salvaguardar o nome da Igreja do Senhor na comunidade.

Aproveite e leia também os comentários abaixo, pois são respondidas muitas outras dúvidas sobre este assunto. 

Por uma questão de tempo, não responderei novamente a perguntas que já tenha sido respondidas em outros comentários, mais de uma vez... Conto com a compreensão de vocês.

veja também:
- Dúvidas sobre namoro cristão
- Conselhos a namorados e noivos

UM DETALHE IMPORTANTE: não tenho como responder questionamentos sobre disciplina em outra denominação, que não a Igreja Adventista do 7º Dia.














Comentários

Gilson Medeiros disse…
Caro anônimo, acredito que a questão aqui não é de se você deve ou não casar com a moça que engravidou. É claro que um casamento nessa situação tem tudo para não dar certo, mas essa é apenas uma suposição.

O mais importante agora é sentar com essa jovem e definirem qual será o futuro da criança que está para vir. Essa é a principal "vítima" de toda essa situação.

Ore ao Senhor, pela sabedoria, e tome a decisão mais acertada para o caso. Sugiro que converse com o pastor do seu distrito, pois ele conhece os envolvidos e pode te dar uma orientação mais coerente com a situação.

Estarei orando por vocês.

Um abraço
Gilson.
Anônimo disse…
Olá, pastor. Tive relação sexual, sem penetração, antes do casamento com minha amada, só eu, ela e Deus sabe disso. Tomamos a Santa Ceia, fizemos um pacto com Cristo. A cerimônia poderá acontecer?

Segundo ponto: No curso de noivos a pergunta virá, seria pecado negar que tivemos relação? Já que o pecado está perdoado. Até msm para evitar escândalos.

Peço uma orientação para não ceder mais a tentação.

Deus abençoe seu ministério na web! Forte abraço.
Gilson Medeiros disse…
Caro anônimo, a verdade será sempre o alvo a ser perseguido.
Na situação que você descreve, na qual houve o erro, mas se buscou o perdão e o arrependimento, e não se voltou à pratica da fornicação, então não há porque tornar o pecado público, e a cerimônia poderia acontecer normalmente, com as bênçãos do Senhor.

Na outra dúvida, eu penso que, caso o pastor pergunte sobre o ocorrido, o melhor é contar a verdade e arcar com as consequências. Se ele entender que pode dirigir a cerimônia, ele assim o fará. Caso contrário, entendam como sendo o zelo divino para que o casamento de vocês não inicie de forma equivocada.

A fornicação é um duro pecado, e as consequência podem ser muito amargas, caso venha se tornar público.

Ore ao Senhor, peça misericórdia e sabedoria, e fale a verdade ao pastor que oficiará seu casamento. Se ele não perguntar, ou entender que o pecado não mais existe (e ele poderá realizar a cerimônia tradicional), agradeça ao Senhor!

Um abraço
Gilson.
Julino disse…
Olá Pra, tenho uma dúvida que vem me assolado. Alguém que fornicou, e dessa fornicação surgiu uma gravidez, é obrigatório casar ? É o seguinte, com 17 anos eu forniquei e surgiu uma gravidez, passei pela disciplina de 12 mêses, agora estou com 24 anos e vivo buscando resposta para essa questão, eu tenho obrigatoriedade de casar com ela ? Sei que Deus já me perdoou pelo erro , mas preciso desta resposta.
Gilson Medeiros disse…
Caro Julino, não ficou clara sua dúvida.

Como você menciona em seu comentário, já fazem 7 anos da gravidez.
Se você foi disciplinado na época, acredito que já tenha sido rebatizado.

A igreja não pode "obrigar" você a casar, até mesmo porque você era menor de idade na época dos fatos, segundo você diz.
Mas, levando-se em conta a cultura da região onde você vive, há um dever "moral" em regularizar a situação (casando ou não). Se a criança já está com 6 a 7 anos, creio que você regularizou (registrou o(a) filho(a) com seu nome). É o correto a fazer, independente de casar ou não.

Como não sei os detalhes do caso, não tenho como opinar de forma mais apropriada.
Sugiro que procure o pastor do seu distrito, pois ele é a pessoa ideal para analisar todos os pontos e dar o melhor aconselhamento que seu caso requer.

Um abraço
Gilson
Anônimo disse…
Olá, antes de me batizar como Adventista eu abandonei minha esposa e cometi adultério. E nós só vivíamos juntos. Então decidi voltar pra casa. Acontece que ela nunca ficou satisfeita e feliz, ela até afirma que eu sou grosso, por mais q discordo, mas entendo sua situação. Acontece que ela está decidida em me deixar, por mágoas do que fiz no passado e "como trato ela" temos um filho, e nos casamos no civil antes de se batizar. Eu temo muito pela vida espiritual dela, ela vai ser disciplinada, eu também serei? Estarei impedido de assumir meus cargos na igreja? Se ela decidir me deixar de fato só estaremos livres pra novo relacionamento de acordo com o manual se eu for infiel ao casamento? Estou muito triste, mas as dúvidas não param. Feliz Sábado.
Gilson Medeiros disse…

Caro anônimo, como já mencionei aqui em outras ocasiões, essa temática do adultério/divórcio é uma das mais complexas e polêmicas da Teologia Adventista, especialmente por envolver algumas compreensões que são muito diferentes daquelas que "o mundo" nos ensina hoje em dia.

De um modo geral, quando existe o divórcio (sem que o motivo tenha sido adultério), ambos continuarão unidos pelo voto matrimonial, mesmo que venham a morar a milhares de quilômetros de distância um do outro. Aquele que primeiro cometer o adultério romperá esse voto, liberando a parte "traída" para contrair novas núpcias. Apenas pelo fato de se separarem não geraria, a princípio, disciplina... exceto se a igreja local (que detém essa autonomia e autoridade) analisar que houve escândalo no testemunho dado aos "de fora". Compreende?!

A sua situação envolve muitos detalhes que precisam ser melhor analisados, à luz da nossa compreensão teológica sobre o fato.

Sugiro que você procure o pastor do seu distrito para um aconselhamento mais específico, uma vez que ele já deve conhecer os fatos que você menciona do seu passado, e sua situação conjugal atual.

No mais, ouça sua esposa, e veja se, de fato, ela não teria razão em estar chateada... convide o pastor para uma visita, juntamente com a esposa dele, e tentem, juntos, refazer seu casamento, pelo bem do seu filho. Ele será a maior vítima de tudo isso.
Aqui mesmo no blog tenho algumas postagens voltada para essa reconciliação entre casais.

Estarei orando por vocês.

Um abraço
Gilson.


Borges Neto disse…
Boa tarde pastor! Eu sou de Angola e sou adventista do sétimo dia! A minha pergunta é a seguinte; segundo o manual da igreja, diz que o membro sob censura não tem voz nem voto, nas atividades da igreja, tais como ensinar numa classe da escola sabatina, eu entendo que, aqui se refere que o membro não pode comentar na classe, só ouve e observa até o tempo da censura, o meu pensamento está correto? Ou pode comentar?
Gilson Medeiros disse…
Caro Borges, de um modo geral, não há motivo para proibir a participação de alguém que esteja sob disciplina, em comentar durante uma lição de Escola Sabatina, na sua unidade.

O pensamento defendido pelo Manual é para evitar que uma pessoa sob disciplina tome parte "ativa" no culto público ou nas decisões administrativas da Igreja. Um visitante, por exemplo, que soubesse do mau testemunho daquele membro que estaria "disciplinado", poderia achar estranho o fato de a pessoa cantar, pregar, liderar a Lição, etc., na "frente" da congregação. Entende?!

Proibir que a pessoa faça um simples comentário durante a Lição, na minha humildade opinião, não parece ser algo adequado para o espírito de redenção e resgate que os Adventistas devem oferecer àqueles que estejam em um momento tão delicado quanto a disciplina eclesiástica... é claro que tal participação deve estar sob a supervisão atenta do professor da Unidade, para evitar comentários que vejam a dividir ou confundir os demais alunos.

Porém, prezado Borges, tudo vai depender da "cultura denominacional" da igreja local, pois a congregação pode entender que um membro sob disciplina não deva, de fato, participar em nenhum tipo de atividade (inclusive durante a Lição, na unidade), para evitar escândalos aos novos convertidos ou aos membros mais zelosos em sua fé.

Portanto, o mais indicado é buscar a orientação do seu pastor local, pois somente ele conhece a realidade das igrejas de sua região, e pode oferecer um aconselhamento mais direcionado à realidade de vocês.

Espero ter ajudado.

Um abraço
Gilson.
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